A Eurocrise na Comuna 23 Versão para impressão
Quarta, 22 Dezembro 2010

Por toda a Europa os temas centrais da política têm sido a crise da dívida pública e os pacotes de austeridade. Na verdade, vive-se uma nova fase da crise e assiste-se a enorme disputa sobre como sair dela e quem paga as suas consequências.

A crise atingiu profundamente a Europa, nomeadamente o sector financeiro, muito envolvido no subprime norte-americano e nas bolhas do imobiliário em diversos países do continente. Já por várias vezes foi decretada a “boa” saúde do sector financeiro, nomeadamente da banca. Mas tardam a ser digeridas as dívidas tóxicas e regularmente mais um banco qualquer necessita da intervenção urgente do respectivo Estado. Viu-se no caso da Islândia, falida pela aventura financeira. Depois da Islândia muitos países tiveram de socorrer os seus bancos, o último caso conhecido é o da Irlanda. O “tigre celta” está com mais de 30% de défice, devido ao extraordinário auxílio que o Estado irlandês teve de prestar à sua banca.

Da crise dos bancos deixou de se falar, o centro foi transferido para as dívidas públicas. Mas estas dispararam em consequência da crise, após os auxílios à banca e depois de anos de desregulação, de privatizações e de financiarização da economia.

Os pacotes de austeridade garantem que os povos pagam os juros da dívida, através de reduções  salariais, de cortes nos serviços públicos e nos sectores sociais e por aumentos de impostos sobre quem trabalha. Trata-se do maior ataque ao modelo social europeu, por um lado, e da maior redistribuição a favor do capital financeiro, por outro. Estado social e financiarização excluem-se a prazo.

No entanto, um novo tema surge à força, apesar da má vontade dos media e dos governos: as greves gerais e os protestos massivos. Sete greves gerais na Grécia, várias manifestações e greves prolongadas em França, diversas manifestações e protestos em países do leste, greve geral em Espanha a 29 de Setembro - dia de protesto europeu contra a austeridade.

A 24 de Novembro, Portugal vai também ter uma greve geral, que será certamente o maior protesto social, desde há muitos anos.

Nesta Europa em crise, o debate político e o combate ao pensamento único da inevitabilidade das políticas à FMI são essenciais. Este número da Comuna pretende ser um pequeno contributo para esse debate.

Carlos Santos