O Bloco de Esquerda anunciou a apresentação de uma moção de censura no passado dia 10 de Fevereiro e disse apresentou-a para reforçar aquela que é a posição desta esquerda para a política deste país.
Artigo de Diogo Barbosa
Criticada por alguns sectores de esquerda, esta moção de censura é a resposta da esquerda de confiança a estas medidas de austeridade postas em prática por este Governo do PS. Uma esquerda responsável é aquela que quer por fim a uma política de loucura que nos leva na espiral austeridade e recessão. Esta moção vai ser apresentada no dia 10 de Março e já cumpriu um objectivo: a clarificação política sobre aquela que é a intenção que cada partido tem para este país. Uma moção que mostrou o alinhamento principal na política portuguesa: a sustentar este Governo destrutivo para as pessoas estão o PS, o PSD e o CDS. Este é o Governo que ataca sucessivamente o Estado Social e todas as pessoas que dele precisam. É este Governo que defende o patronato e aplica a austeridade sem olhar para as reais necessidades deste país. Um programa político de direita, portanto, que é agora socorrido por toda a direita portuguesa. Com a apresentação da moção de censura surgiram logo acusações de irresponsabilidade e de instabilidade. Houve quem viesse dizer que a censura era dar a mão à direita, ao FMI e sabe-se lá mais a quê. Foram muitas e profícuas as declarações de medo sobre a moção de censura, vindas até de vários sectores da esquerda. O que não surpreende, tendo em conta que ainda há quem vá enganado nas nomenclaturas... Acredito que em democracia não é possível empossar hipoteticamente novos Governos ou antecipar vencedores. Isso seria substituirmo-nos e inutilizarmos o pilar da democracia que é o sufrágio. Ora, a moção do Bloco não quer entregar o Governo à direita mais extremista, quer sim levar o país a eleições, que cada partido mostre aquilo que realmente pretende para a governação. O Bloco de Esquerda, ao contrário do que se diz, quer que esta moção passe, quer ir a eleições. Não temos medo da democracia, não temos dividendos políticos para pagar a ninguém, promovemos o Estado Social e os direitos de cada um e de cada uma. Outros que não querem que as pessoas decidam sobre um novo Governo provavelmente querem tirar dividendos políticos da situação que existe. Mas à custa de quem? De todos aqueles que são atacados por este Governo e os seus PEC's? Outro ponto muito interessante de analisar é o facto de dizerem que agora é que o FMI vem ai. Ora o FMI já cá está com José Sócrates, da mesma forma que já cá está a direita com uma nomenclatura de Socialista, gostava de perceber se os despedimentos na função pública são socialistas, se os cortes nas bolsas de estudo são socialistas, se a entrega de hospitais a privados são socialismo, se a precarização, os recibos verdes, o desemprego, gostaria de saber se isto é socialismo. O Governo de José Sócrates não o é de certeza. E sim, o Bloco de Esquerda luta e vai lutar para que o Estado Social e o socialismo existam. José Sócrates acusou o Bloco de Esquerda de ser a extrema-esquerda radical. Se ser socialista e defender o Estado Social é radical, então o Bloco é radical e assim vai continuar até que os direitos das pessoas sejam efectivamente conquistados. Com políticas como esta, encapotada, onde se diz que não há FMI mas ele já cá está e isso vê-se todos os dias, não podemos viver mais, e a moção de censura é um não claro ao Governo de José Sócrates e à direita que o apoia. Ora o PSD parece defender o FMI dizendo que até apresentaria uma moção de censura porque o Governo não estava a cumprir com a execução orçamental, ora este orçamente foi aprovado pelo PSD, e é um orçamento à FMI passe-se a expressão. Não queremos o FMI em Portugal e por isso também apresentamos esta moção, porque somos contra este orçamento, filho da direita portuguesa. No que toca à estabilidade no país, qual é a estabilidade que este Governo, aliado ao PSD, traz ao país? Nenhuma, o Bloco de Esquerda não quer a estabilidade na subida do desemprego, na subida da precarização, na subida da falta de educação nas escolas e universidades, estabilidade nos cortes salariais na função pública. O Bloco de Esquerda quer estabilidade para aqueles que trabalham e têm direito a um salário justo, estabilidade para que os precários possam ter um emprego seguro, estabilidade para os desempregados que procuram emprego e nem mesmo o subsídio de desemprego recebem, estabilidade para os que estudam e não recebem as suas bolsas. Não queremos a instabilidade de quem tem favores a pagar, de quem privatiza os sectores lucrativos da função pública, de quem corta na educação e nas reformas. Queremos disputar eleições, marcar o nosso espaço político demarcando-nos do PS e de toda a direita que o apoia. Somos e seremos exactamente o que nosso nome indica, Bloco de Esquerda, um bloco que luta à esquerda pelos direitos sociais e pelo socialismo. |