O aumento do desemprego no nosso país é já uma constante do dia-a-dia e revela-se como a maior destruição já alguma vez vista da força produtiva.
Artigo de Helena Pinto
Todos os dias surgem novas notícias sobre o encerramento de empresas, de deslocalizações, de falências e insolvências e os números que se somam, não são simples estatísticas, são mulheres e homens que perdem o seu posto de trabalho, o seu rendimento, o sustento das famílias. Mas são mulheres e homens forçados a uma situação de inactividade para a qual não têm perspectivas de saída, é a entrada no pântano do desânimo, da perda de confiança, da frustração.
É comum ouvir trabalhadores que são despedidos, nas entrevistas às televisões, afirmarem: “eu tenho 45 anos, sempre fiz isto, como é que me vou safar?”. Este é um dos vários problemas que o desemprego traz consigo, a existência de um grupo de trabalhadoras e trabalhadores que sempre fizeram a mesma coisa, que têm uma escolaridade baixa ou média e que, por força do desemprego, se sentem no fim da linha quando ainda nem completaram 50 anos de idade em muitos casos. E este grupo não pára de crescer, em simultâneo com o chamado “grupo dos desencorajados”, aqueles que já desistiram de procurar emprego. Desistir de procurar emprego, não é exactamente o que estas pessoas fazem. A realidade diz que estas pessoas não têm onde procurar emprego, porque foram excluídos do mercado de trabalho por força da sua profissão, do seu nível escolar, da sua idade, do seu sexo. E assim aumenta o chamado desemprego de longa duração, hoje excluídos do mercado de emprego, amanhã excluídos socialmente.
As estatísticas trimestrais do INE, conhecidas há poucos dias, referentes ao último trimestre de 2011, vieram confirmar as expectativas realistas em relação ao aumento do desemprego. O ano de 2011 fechou com uma taxa de desemprego de 14%. Não será difícil projectar que em Fevereiro de 2012 essa taxa já subiu significativamente. Aliás, nenhum comentador já diz o contrário, assim como é unânime a confirmação de que estes números pecam por defeito, tendo em conta que muitos desempregados não estão inscritos no Centro de Emprego, para além dos milhares de situações de precariedade e de trabalho temporário.
Os dados recentes comprovam outra coisa – o desemprego jovem aumenta de forma acelerada, atingindo os jovens com baixa escolaridade, mas também aqueles e aquelas que têm formação superior. 35,4%, é uma percentagem aterradora, que realmente será ainda maior, pois existem muitos jovens à procura do primeiro emprego que não se encontram inscritos como desempregados.
As mulheres continuam a ser as mais atingidas, são a mão-de-obra a quem se paga menos e que é mais fácil de despedir. As mulheres são empurradas para o desemprego e para casa. Não faltam, portanto, as teorias de que o lugar da mulher é em casa e que assim prestarão um bom serviço ao país.
Se a tudo isto juntarmos as ameaças a que estão sujeitos os trabalhadores e trabalhadoras da Administração Pública, a conclusão é óbvia: o desemprego vai continuar a aumentar e a política imposta pela troika e praticada pelo governo não traz nenhuma solução, agrava o problema.
O problema é europeu, Espanha e Grécia apresentam números superiores aos portugueses, mas o problema é transversal a todos os países, como é transversal a política da austeridade e o ataque aos direitos de quem trabalha.
Na grandiosa manifestação realizada em Madrid contra a alteração das leis laborais uma mulher dizia: “querem despedir os pais, dizendo que vão dar emprego aos filhos”. Ela sabia que não é verdade e nós também sabemos.
Estamos perante uma verdadeira ruptura social. O desemprego destrói a vida das pessoas mas também destrói as redes sociais. Não há zona de conforto. Não se pode condenar milhares e milhares de pessoas à sopa dos pobres, chame-se cantina social ou outra coisa qualquer, mesmo que seja o “take-a-way” dos pobres para comerem em casa, sozinhos, envergonhados e desmoralizados.
O Primeiro-Ministro assume que o desemprego vai continuar a aumentar, não é coragem, é porque está encurralado, mas mente quando diz que o futuro será melhor. Não será, se persistir este ataque à economia, aos postos de trabalho e aos direitos laborais.
Para combater o desemprego o governo seguiu uma velha e estafada máxima: há um problema, cria-se uma comissão. Para além disto só conhecer a receita de diminuir postos de trabalho (veja-se o que pretende fazer na administração pública e no sector empresarial do Estado) e facilitar os despedimentos.
Investimento público é diabolizado; medidas anti-recessivas de modo a estimular a economia vão contra o sacrossanto princípio troikista de que é preciso e inevitável empobrecer; obrigação das empresas com lucros e apoios do Estado para a manutenção de postos de trabalho e de unidades de produção, não pode ser porque a iniciativa privada é livre; apoios às pequenas e médias empresas, afogadas em dívidas e dificuldades, não existem…
O governo e a troika não estão interessados em criar emprego e sabem muito bem que com as políticas seguidas isso não acontecerá. Mas também desprezam quem está no desemprego, cortando subsídios e apoios sociais.
O Primeiro-Ministro não pode dizer que o desemprego vai continuar a aumentar e ficar-se por aí, encolhendo os ombros e dizendo que gostava muito que as coisas fossem diferentes. Tem que justificar porque é que não fala em apoiar as pessoas e as famílias atingidas pelo desemprego.
Só existe um caminho: aumentar a contestação e a luta contra o governo da troika, as prioridades têm que ser invertidas e o combate ao desemprego é o centro da política que olha o futuro nos olhos.
Haverá poucos portugueses, que de forma directa ou indirecta, não sejam atingidos pelo desemprego. É uma luta de todos e por todos. |