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Sexta, 28 Novembro 2008

A vitória de Obama será uma bofetada do simbolismo sobre a realpolitik ou o simbolismo como uma espécie de abat-jour sobre o programa político do próximo Presidente dos EUA, centro do Império?

Existiram vozes embargadas e declarações iluminadas pelo simbolismo mas poucas interpretações analíticas sobre as propostas de governação para o país-sede do Império mundial. Saramago arrematou com a palavra Revolução; Soares atirou-lhe com o epíteto de Esquerda... Embalados certamente pela mensagem da mudança, da força mobilizadora do positivismo do yes we can e pelo desejo reprimido da conjugação yes we can make a change!

Conseguirão? Ou o discurso da mudança é apenas um slogan com início e fim em si mesmo, sem conteúdo ou progresso ulterior a si? Desconfio da mudança quando o seu prossecutor não se atreve a fazer a descolagem do seu antecessor. Quando se mantém e continua a moldagem da consciência colectiva em torno do securitismo, da política do medo e da iminência da ameaça externa terrorista. É o discurso do 11 de Setembro, do militarismo, do pânico, da histeria, da perseguição, da legitimação da ofensiva bélica imperialista da apropriação económica de novos mercados, bens e capitais.

“Mas Obama é contra a Guerra!; Ele vai retirar do Iraque!” Será? Talvez abandone Bagdade, mas e Cabul? Islamabad? Teerão?

O seu discurso enquanto Senador, a 1 de Agosto de 2007 (01.08.07) não deixa zonas cinzentas: a ordem é retirar do Iraque para concentrar no Afeganistão, no Paquistão, no Irão. É esta a táctica, e o discurso que o acompanha: “Nós não terminámos o trabalho contra a al Qaeda. Nós não desenvolvemos novas capacidades para derrotar um novo inimigo, nem lançamos estratégias para secar a base de suporte dos terroristas. Nós não reafirmámos os nossos valores, segurança ou pátria”.1

Sobre a Guerra, Obama crítica Bush... Diz que este último falhou na invasão ao Iraque, e isso tornou o povo norte-americano ainda mais vulnerável à ameaça terrorista. A essência e chantagem no discurso é a mesma, pautado apenas com variações geo-estratégicas. Para Obama, os alvos são o Afeganistão, o Paquistão e o Irão. De resto, tudo igual: o controlo pelo medo, a ameaça terrorista, o militarismo e a expansão imperialista com chuteira de guerra.

O líder do Império poderia mesmo ser um anti-clímax para o belicismo? Não é este mesmo belicismo a frente do Império para a expansão? Uma expansão não territorial, de conquista de fronteiras com nacionalismo primário, mas uma expansão de mercado, de financeirização e mercantilização, de testa de ferro para com as empresas e burguesia financeira. Neste capítulo, aquilo que vislumbramos é a continuidade da política expansionista com objectivo de acumulação; mais... com objectivo de concentração de capital. O capital é um corpo necessitado de expansão, de mais capital, e isso força e salta as fronteiras. A opressão dos povos pela guerra e a conquista de novos mercados de expansão capitalista tem uma mão visível: a guerra. Para a legitimar é apenas preciso moldar a consciência colectiva; a política do medo e da histeria fóbica para com o terrorismo é luva perfeita. Porquê alterá-la agora?

Moisés Ferreira

1) Tradução livre de um trecho do discurso de Obama a 01 de Agosto de 2007, em que diz “We did not finish the job against al Qaeda in Afghanistan. We did not develop new capabilities to defeat a new enemy, or launch a comprehensive strategy to dry up the terrorists' base of support. We did not reaffirm our basic values, or secure our homeland“