Batota must go on? Versão para impressão
Sábado, 18 Outubro 2008

A crise actual pôs em cheque o sistema global do capitalismo financeiro, mesmo perante os seus mais empenhados defensores.

A brutalidade das suas consequências levou a burguesia a tomar medidas pouco ou nada consentâneas com as bases ideológicas que têm sustentado o seu domínio de classe.

Os mais inteligentes de entre os capitalistas, como George Soros, mostram-se muito interessados na análise que Marx fez do sistema capitalista. Para tal tentam entender as razões por que Marx foi o mais lúcido analista da estrutura íntima e da dinâmica do Capital. Melhor que ninguém soube ligar os fantásticos progressos que o capitalismo trouxe à humanidade à tragédia anunciada para todos aqueles que sejam apanhados na sua voracidade sem limites.

Batota must go on? O método de análise que lhe permitiu prever a natureza da sociedade burguesa no dealbar deste século XXI - e daí advém o interesse de Soros e outros no seu estudo - é o mesmo que lhe conferiu a capacidade para a mais radical e demolidora das críticas.

Aqueles que o redescobrem na vã esperança de aprenderem com ele a escapar ou a responder às crises, rapidamente perceberão que de nada lhes vale, pois que o que caracteriza o capital - a procura do lucro máximo e portanto a produção pela produção - leva-o a ter que ultrapassar os seus próprios limites, fazendo que a contradição antagónica que o liga umbilicalmente ao trabalho assalariado faça surgir uma contradição fundamental no funcionamento do seu sistema político e social.

O capitalismo, nesta sua fase da globalização financeira e especuladora, mais do que nunca dá razão a Marx : «A sociedade burguesa moderna, uma sociedade que fez surgir gigantescos meios de troca e produção, é como o feiticeiro incapaz de controlar os poderes ocultos que desencadeou com as suas fórmulas mágica».

Em todo o seu processo histórico o capitalismo tem sobrevivido às mais terríveis crises, apesar de ser incapaz de entender o seu próprio funcionamento. É que ele tem um recurso inesgotável: o proletariado e os biliões de camponeses e de agricultores de subsistência que são a grande massa que, como se fosse a coisa mais natural deste mundo, paga violentamente a expansão capitalista.

Em 1929, depois da fome e do desemprego maciço nos EUA, Austrália, França, Reino Unido e Canadá, o fascismo e o nazismo na Alemanha e depois a guerra, foram a resposta encontrada. Agora, ainda na fase do circo das conferências entre governos e a excitante trepidação do casino das bolsas, ninguém é capaz de prever com segurança o impacto da recuperação da crise que, não tenhamos dúvidas, vai fazer-se para continuarmos a ver as sorridentes faces dos senhores do mundo trocando piropos e garantindo a batota mundial.

A resolução da crise tem como objectivo premiar os bandidos e tentar criar as condições para um novo avatar do capitalismo na sua caminhada de progresso tecnológico, genocídio e hecatombe.

Mas a sua propaganda sobre a genuinidade da livre concorrência e do mercado como alternativa ao serviço público assegurado pelos estados sob controlo democrático, estará já ferida de asa.

Cabe aos comunistas ajudar a entender os mecanismos do funcionamento desta hidra de sete cabeças e de como lhas cortar.

Mário Tomé