Companheiros |
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Quarta, 21 Março 2012 | |||
quero escrever-me de homens quero calçar-me de terra quero ser a estrada marinha que prossegue depois do último caminho
e quando ficar sem mim não terei escrito senão por vós irmãos de um sonho por vós que não sereis derrotados
deixo-vos a paciência dos rios a idade dos livros que não se desfolham
mão não lego mapa nem bússola porque andei sempre sobre os meus pés e doeu-me às vezes viver
hei-de inventar um verso que vos faça justiça
por hora basta-me o arco-íris em que vos sonho
basta-me saber que morreis demasiado por viverdes de menos mas que permaneceis sem preço
companheiros Mia Couto in "Raíz de Orvalho"
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