Continuamos à Rasca Versão para impressão
Quarta, 19 Março 2014

rasca é a precariedadeO 12 de março foi a primeira grande manifestação popular de um ciclo que teve continuidade no 15 de Outubro e nos protestos do Que se Lixe a Troika.

 

Artigo de Bruno Góis

O 12 de Março de 2011, iniciativa de quatro jovens divulgado inicialmente pelo facebook e depois pelo merecido destaque na comunicação social tradicional, revelou-se um acontecimento que fica na história da vida política e social portuguesa pela mobilização de mais de 300 mil pessoas que saíram às ruas de Lisboa, Porto e outras cidades pelo continente, ilhas e, mesmo, junto de algumas embaixadas portuguesas. Recordo com carinho, angústia e esperança essa que foi a primeira grande manifestação popular de um ciclo que teve continuidade no 15 de Outubro e nos protestos do Que se Lixe a Troika.

Note-se que o protesto era apartidário mas não era apolítico, aliás a manifestação convocada para a mesma hora e local pela extrema-direita contra todos os partidos (dita "1 milhão na Avenida da Liberdade pela demissão de toda a classe política") acabou por se ver "obrigada" a "apenas" tentar cavalgar a manifestação da Geração à Rasca. Ainda assim (e por isso), foi indesmentível a presença (minoritária) das críticas de direita e extrema-direita no protesto.

No entanto, a reivindicação do direito ao trabalho e a uma vida sem precariedade respirava muito mais as referências ao 25 de Abril, recuperando alguns cravos e palavras de ordem, e principalmente à "Geração casinha dos pais" que quer sair da "casinha dos pais" (Deolinda) e à luta do "Povo, Pá!" (Homens da Luta). Nesse protesto, ficou demonstrado que, ainda que a iniciativa tenha partido da juventude, todas as gerações à rasca se uniram em solidariedade, em nome de um "País precário! [que] Saiu do Armário!".

Passado três anos, à austeridade dos PEC's 1, 2 e 3 sabemos que se seguiu um Memorando da Troika cujas "medidas são no essencial as do PEC 4", admitido pelo próprio Sócrates. E sabemos que o Tratado Orçamental garante austeridade permanente, corte permanente nos salários e nos serviços públicos, na vida e na democracia.

Certo é que a espiral do rotativismo lá continua a hipnotizar, apesar de ter ceifado pelo menos 622,7 mil empregos nos últimos cinco anos, em Portugal.... "e se mais mundo houvera lá chegara".

Um dia destes temos de voltar a sair à rua. Está um sol tão bonito.

Bruno Góis