Coligação Verde-Vermelha – um amanhecer de esperança? |
Terça, 14 Dezembro 2010 |
Após 16 anos de políticas conservadoras sob a liderança do chanceler Helmut Kohl, que esteve envolvido num escândalo de corrupção em 1998 e na reunificação da Alemanha em 1989, a população alemã procurou uma mudança no governo. A ex-coligação do partido Verde (Die Gruenen) e dos social-democratas (SPD) com o seu candidato a chanceler Gerhard Schröder prometeu esta mudança. Nesta parceria o partido Verde jogou um papel relevante e interessante. Em 1980, quando o partido foi fundado, defenderam uma opinião de esquerda e representaram os interesses dos pacifistas e do movimento ecologista na Alemanha. Mas será que a coligação Verde-Vermelha foi uma alternativa real à ideologia neoliberal? Desde o seu início no princípio dos anos 80, os Verdes passaram por um longo processo de transformação. Com ideais elevados, novas ideias e a coragem de mudar, entraram na cena política. Mas quem quer governar um país sem uma maioria deve conformar-se com as regras das elites. O partido anteriormente pacifista assumiu o governo e enviou de livre vontade as forças armadas (Bundeswehr) para a guerra do Kosovo. Não só esta guerra era ilegal, de acordo com o direito internacional, como também mostrou o quão fácil foi para os Verdes trocar os seus ideais por um pedaço de bolo do poder político. Mas isso não foi suficiente. Lado a lado com o SPD prosseguiram uma política neoliberal, de tal modo que nem se quer o FDP¹ podia ter feito melhor. O “sucesso” da coligação incluiu a Agenda 2010, Hartz 4², o apoio passivo à guerra do Iraque e presença militar activa no Afeganistão. A coberto da capa do crescimento, de políticas amigas do investimento e da competição pela denominação “Alemanha local dos negócios” a Agenda 2010 foi forçada, incluindo reformas do mercado de trabalho, que trouxeram aos trabalhadores insegurança social, condições de trabalho inseguras e rechearam as carteiras dos empregadores. A lei incluiu cortes nos benefícios dos seguros de saúde, flexibilização da protecção do emprego e uma reforma massiva dos subsídios de desemprego. Após um ano de desemprego, os desempregados são forçados a aderir ao “Hartz 4”² e passam a receber um subsídio de desemprego que quase não chega para assegurar a subsistência. Para além disso, os desempregados têm que aceitar qualquer trabalho que a agência de emprego sugerir. Isto empurra o desempregado para o trabalho temporário, para salários de pobreza e para um futuro sem perspectivas. Mas se a má situação económica não é suficiente, os desempregados são vilipendiados pela comunicação social como escumalha social. Deste modo, milhões de pessoas que procuram emprego tornam-se parasitas anti-sociais e os “honestos contribuintes” têm que pagar por eles. Para evitarem ser marginalizados, os desempregados estão dispostos a submeter-se aos mecanismos de produção capitalista para serem tratados com dignidade. Enquanto os empregadores se deliciam com o mercado de trabalho flexível e os lucros, os trabalhadores têm que mudar de trabalho em trabalho. Semanas de protesto de milhares de milhares de pessoas não abalaram o Governo – afinal – as elites estão sempre certas. Internacionalmente o governo Verde-Vermelho também deixou a sua impressão digital. Com a entrada na guerra do Kosovo, em 1999, os Verdes atiraram borda fora todas as pretensões pacifistas. Durante as negociações para alcançar uma autonomia parcial do Kosovo capitularam a pedido da NATO; os seus soldados teriam de monitorizar esta autonomia parcial. Na Alemanha um estereotipo de inimigo foi promovido através da comunicação social: “uma intervenção militar é inevitável para prevenir um segundo Auschwitz”, - com estas palavras a Alemanha começou o seu primeiro envio de tropas desde 1945. Este primeiro tabu foi intencional, abrindo caminho para novas guerras. Desde então, a Alemanha esteve no Afeganistão e formou o exército para ser uma força de reacção móvel. Esta mudança de políticas temos a agradecer à coligação Verde-Vermelha. Sete anos desta coligação mostraram que quem entre numa coligação com as elites governantes, é sempre usada para vantagem das mesmas. De pacifistas para belicistas, de uma política social à exclusão social. Nós enquanto movimento de esquerda não nos devemos deixar enganar pela expectativa de poder. Devemos a nós próprios e às gerações futuras um mundo justo, democrático e humano – não histórias de guerra e lobbies.
Jan Fischer, Marian Nestroy Membros do ['solid] - die sozialistische jugend, organização da juventude socialista alemã. Tradução de Ana Cansado
(1) 'Freie Demokratische Partei' representantes de políticas neoliberais. (2) Combinação de subsídios de desemprego e assistência social. |
A Comuna 33 e 34
A Comuna 34 (II semestre 2015) "Luta social e crise política no Brasil" | Editorial | ISSUU | PDF
A Comuna 33 (I semestre 2015) "Feminismo em Ação" | ISSUU | PDF | Revistas anteriores
Karl Marx