A GALP e o autocarro da Selecção Nacional – o gozo popular como combustível dos poderosos Versão para impressão
Sexta, 10 Outubro 2008
A publicidade da GALP, aquela em que o 'povo' empurrava o autocarro da Selecção Nacional, é um claro exemplo do que são as nações: são todos da equipa, mas a maioria vai a pé.
'Selecção' quer dizer isso mesmo: são os escolhidos, os melhores, a aristocracia ou, numa aproximação à linguagem em voga, são os meritocratas.
Texto de Bruno Góis.

Sejam os que jogam bem em campo, sejam os que jogam bem no casino do mercado de capitais (bolsa), os meritocratas por definição merecem ir bem montados num veículo atestado pela 'energia positiva' do suor da populaça.

A massa popular sacrifica-se com um sorriso nos lábios empurrando o autocarro com a marca da empresa nacional, mas aí está outra contradição: afinal a empresa também já não é totalmente nacional, nem no sentido público nem no sentido privado da propriedade da empresa. Aliás a participação que resta ao Estado na GALP de nada tem valido às cidadãs e cidadãos que têm sofrido com os aumentos do combustível em favor da especulação das gasolineiras.

A aparência de empresa nacional é útil para fins publicitários: a empresa da nossa equipa!. E é através dessa aparência que se sustentam as ilusões nacionalistas da mentalidade pequeno-burguesa dos muitos que, nos intervalos dos seus pequenos negócios ou no regresso ferroviário de um dia de trabalho assalariado, discutem os sucessos e insucessos das empresas cujos lucros apenas ridiculamente lhes podem dizer algo.

Neste esforço feliz de carregar os escolhidos ao colo, perdão, de empurrar orgulhosamente o seu/nosso autocarro podemos ver a versão tuga da piada jugoslava dissecada por Žižek: no estilo burocrático do socialismo soviético 'eram os próprios membros da nomenclatura, os representantes das pessoas comuns, que conduziam as dispendiosas limusinas' ao passo que no socialismo autogestionário jugoslavo 'eram as pessoas comuns que conduziam as limusinas através dos seus representantes' (p. 24). No primeiro caso 'o Outro goza em vez de mim, no meu lugar', no segundo perde-se a distância entre o eu e o outro: e 'Eu próprio gozo através do Outro' (p. 37).

Esta mesma lógica do Eu próprio gozo através do Outro:

a) sustenta o mito de Cavaco: o self-made man de Boliqueime, suposto menino humilde que chega a Professor Universitário, Primeiro-Ministro e Presidente da República;

b) dá base ao personalismo de presidentes mestizos na América Latina;

c) está subjacente ao Yes We Can do sonho (afro)americano de fazer de Obama o primeiro presidente negro dos EUA.

Estas distracções do gozo através do outro, temos de rejeitá-las em política: ou não fosse 'o livre desenvolvimento de cada um' a verdadeira condição para 'o livre desenvolvimento de todos' (Marx & Engels).

Karl Marx & Fredrich Engels, Manifesto do Partido Comunista, 1848

Slavoj Žižek, A Subjectividade Por Vir - Ensaios Críticos sobre a Voz Obscena, Relógio D'Água, [2004], Setembro 2006

 

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