Carne para canhão Versão para impressão
Terça, 07 Dezembro 2010

Apenas no espaço de um mês registaram-se três vítimas de acidente de trabalho, a envolver electricistas de alta tensão, nos trabalhos em curso na região do Douro Superior.

Longe vão os tempos em que a EDP, ou a REN, procediam a todos os trabalhos de construção e manutenção de linhas, subestações, postos de transformação... Com o assumir dos novos métodos de organização do trabalho toyotistas as empresas entraram numa espiral de subcontratação que lhes retirou o trabalho original e trouxe a subcontratação a toda a actividade da empresa. A subcontratação arrastou consigo a precariedade, a impreparação técnica, a correria no cumprimento de prazos, o recurso a uma mão-de-obra cada vez mais barata, a competição entre empresas fornecedoras de serviços...

A subcontratação resultou na diminuição do valor da força de trabalho, da mercadoria trabalho e do valor do trabalhador enquanto tal. Esta diminuição é brutal, os trabalhadores das subcontratadas chegam a ganhar menos de metade ou um terço dos salários dos trabalhadores da EDP. Acresce a alteração “exponencial” que nestas empresas tem existido na relação entre capital fixo e variável e potenciado a acumulação de capital e lucros espantosos.

Na “corrida”, naturalmente, a segurança foi deixada em segundo plano. A organização de trabalho deixou de ter como prioridade a ausência de acidentes, normalmente graves, e por muito que as revistas côr-de-rosa da EDP/REN queiram pintar o quadro de gente feliz e sorriso farto a verdade é que a competitividade neoliberal vai deixando marcas duras em quem trabalha. O planeamento e a implementação das 5 regras vitais de segurança atrapalham a rapidez, atrapalham o cumprimento dos rankings e da padronização do tempo de trabalho por tarefa, atrapalham a maximização do lucro máximo e da competitividade. Se o valor da força de trabalho é cada vez menor, cada vez menor – mesmo que relativamente - é o custo da perda violenta do trabalhador.

Cada caso de acidente é sempre um caso, mas o facto é que são casos a mais; e por cada operário caído há 10 para ocupar o seu lugar – muitas vezes imigrantes sem direitos cujo objectivo é trabalharem o máximo de horas possível porque a quantidade de horas trabalhadas “substitui” o baixo valor da venda da sua força de trabalho e a ausência de reivindicação pelo aumento salarial. Ou seja, o excedente da oferta de venda da força de trabalho existente reforça a competição entre os trabalhadores, o isolamento do trabalhador perante o conjunto dos trabalhadores e dificulta a consciência de si para si enquanto classe. Na individualização do trabalho cada caso tende a ser considerado um caso de azar, teve azar!

Autoridade das Condições de Trabalho parece fazer de conta que não vê e está para o trabalho como o 1 está na multiplicação. O seu papel tem sido neutralizado pelos sucessivos governos e, apesar de ser uma instituição do regime, não cumpre as funções que o regime lhe destinou. Em verdade, objectivamente, a ACT facilita a violação das leis que os partidos do regime, burguês, criaram; ou das leis que se estabeleceram na relação de classe, no momento, expressa no parlamento. A baixa ou nula sindicalização dificultam a resistência, a alienação, a ignorância e a ameaça do desemprego fazem o resto.

Entretanto as acções rodam na bolsa de valores, os lucros sobem sem parar e os donos são exemplos de sucesso a seguir. Só que há uns azares, mas isso não conta nos gráficos das cotações nem no sono dos burgueses.

Há muita carne para canhão!

Victor Franco

 

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