G2 ou a Chimérica Versão para impressão
Segunda, 30 Agosto 2010

A ascensão da China a 2.ª potência económica mundial1, ao ultrapassar o Japão depois de em 2007 ter ultrapassado a Alemanha, então 3.ª economia mundial, tem levantado uma interessante discussão sobre o caminho seguido pela China se é ou não um caminho independente do Americano e da economia neoliberal.

O prof. Niall Ferguson2 defendeu no seu livro a “Chimérica” a necessidade de “entender a relação entre a China e a América [EUA]. A China exportadora, a América importadora. A China poupadora, a América gastadora. Essa relação esteve no centro da economia global nos últimos dez anos, e o interessante é perguntar se a crise levará ao fim da "Chimérica".

Outros, que têm visto na China um modelo independente, têm teorizado, perante o ritmo do crescimento, o “Consenso de Pequim”3 versus Consenso de Washington. O “surpreendente ritmo de crescimento da China têm se convertido em um debate prático sobre que lições os demais países "em desenvolvimento" podem tirar do exemplo do gigante asiático. Essa discussão de política económica começa a ganhar fôlego, inclusive na América Latina, e já foi baptizada de "Consenso de Pequim". A expressão, cravada no título de um artigo escrito pelo consultor norte-americano Joshua Cooper Ramo, é usada como contraponto ao chamado "Consenso de Washington", receituário de medidas neoliberais formulado na década de 90 para países em desenvolvimento.”

Partidos Comunistas que defendem a China e o seu modelo como uma etapa de transição para o socialismo, procuram fazer um enquadramento da projecção do poder e da influência económica internacional com Lenin e a sua caracterização sobre a exportação de capitais e os activos reais no exterior com Karl Marx.4

A ascensão da China, tal como as potências emergentes, os BRIC, não se constituem em oposição ao Império, antes se enquadram e se interligam na gestão económica e política das crises do capitalismo pelo Imperialismo global, mesmo que se revelem naturais rivalidades e contradições.

A emergência da China a 2.ª potência económica não esconde, no entanto, os ritmos de exploração e pobreza que se verificam. A China continua com uma base "per capita" para os escalões dos Estados em vias de desenvolvimento: 3.620 dólares, ocupando o 124º lugar entre 213 países recenseados pelo Banco Mundial, em comparação com os 37.870 dólares do Japão ou os 47.240 dos Estados Unidos. O incremento do consumo interno, que caiu de 45% do PIB para 35% na última década, confronta-se com uma rudimentar rede de assistência e segurança sociais.

As estatísticas oficiais contabilizam mais de 150 milhões de pessoas subsistindo com menos de 1 dólar/dia, apesar de nos últimos trinta anos cerca de 300 milhões de chineses terem ultrapassado o limiar da pobreza. O peso do atraso e das assimetrias regionais levará décadas a ultrapassar.

No ano passado a crise económica mundial provocou uma onda de encerramentos de empresas e de desemprego que atingiu 4% a 9% (conforme a fonte) dos 800 milhões de activos. Este ano, desencadearam-se uma onda de greves, particularmente na província de Guangdong (Sul) em Maio-Julho, com foco nas grandes multinacionais. Entre as muitas greves, há dois casos paradigmáticos: a Honda, com paralisações em vários estabelecimentos e a Foxconn, de electrónica, que é notícia desde 2009 pelo suicídio de jovens operários. Fabrica os iPhone da Apple, telemóveis da Nokia, computadores da Dell ou da HP e tem 800 mil trabalhadores na China. O aumento dos salários e do salário mínimo e uma levíssima apreciação do yuan, levou logo alguns a tentarem concluir que a China estaria perante um novo salto tecnológico e de especialização, o “fim do exercito de reserva”  e da era dos baixos salários.
Sabemos que esta conclusão é no mínimo precipitada e que os baixos salários, a ausência de direitos sociais vão continuar a predominar nas “fábricas do mundo”. O desenvolvimento das lutas por mais melhores direitos e condições de vida na China têm a nossa solidariedade e apoio e serão a garantia de mais e melhores direitos para os trabalhadores do Ocidente.

Estaremos assim na via da construção de um modelo independente, o consenso de Pequim? Ou estaremos num processo natural de desenvolvimento do capitalismo, com as suas contradições, mesmo que com características chinesas e interdependente do Imperialismo  Global?

É ponderado ponderar mas os indicadores apontam-nos que ainda estamos perante a afirmação mundial do G2 ou a da Chimérica.

Artigo de José Casimiro

 


1) Anunciado no dia 16 de Agosto de 2010 de “que o PIB nominal da China no segundo trimestre fora de 1,337 triliões de dólares contra 1,288 triliões de dólares do Japão.”

 

2) Historiador da Universidade Harvard

3) O "Consenso de Pequim" foi publicado pelo Centro de Política Externa (The Foreign Policy Centre), instituto de pesquisa baseado em Londres que tem como patrono o primeiro-ministro britânico, Tony Blair. Recentemente a expressão têm ganhado tom de debate e já foram citadas em artigos de publicações como Financial Times e o Newsweek

4) Artigo de Umberto Martins no site “ www.vermelho.org.br” de 14/7/2010 – “A ascensão da China e a decadência dos EUA na América Latina”

 

 

 

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