A caridade na verdade do oportunismo cobarde |
Terça, 18 Janeiro 2011 | |||
Bento XVI neste livro dourado do cristianismo abre as portas da cada de Deus, exprimindo a opinião da igreja relativamente ao panorama socioeconómico global, de uma forma bastante peculiar. Hoje, temos a ideia de uma igreja fechada, dogmática, conservadora, além de uma ideia, estas características são pura realidade. No entanto neste livro nota-se um cuidado especial relativamente a isso, sentimos que "fomos visitar a igreja, mas avisámos previamente, e a casa estava toda arrumada". O que quero dizer com isto é que é notório um discurso medido e cuidado. Atrevo-me a dizer que o papa assume aqui a posição de um político à procura de votos. Pessoalmente fiquei com a ideia de que a igreja está a morrer e precisa urgentemente de novos "aderentes". Claro que essa é uma urgência para todas as comunidade religiosas, todos temos noção que a religião vai morrendo com o desenvolvimento, ela vive dos dogmas, da pura ilusão. Podemos até dizer que hoje a igreja não vive, hoje a igreja encontra-se parada entre os rituais de sempre, está no único estado em que pode estar, o coma. Este não é de todo um livro marcado pelas crenças cristãs, é apenas mais uma forma de aproximar o povo do seu ópio. E por entre capítulos é provável a confusão entre o teor desta obra e a opinião pessoal de Bento XVI, porque é dessa forma que o texto foi pensado e construído, para que aqueles que sempre foram tratados como ignorantes (povo) continuem a ignorar a mais recente evolução cristã, o marketing cristão. Sim porque não pensem que a igreja não evolui, evolui mas apenas em método, ou seja agora enviam um e-mail a condenar a eutanásia, a homossexualidade, o uso do preservativo como método contraceptivo, etc. No mundo cada um luta por aquilo em que acredita, formamos sociedades, juntamo-nos em "grupos", desenvolvemos trabalho intelectual, teorizamos teses, etc. E como tal hoje o capitalista defende o capitalismo, o comunista o comunismo, o anarca o anarquismo, e por fim temos aquilo que não deveria cá estar, porque agora os cristãos também querem o cristianismo. A religião sempre foi perversa nesse sentido, sempre se aproximou de uma forma ilegítima dos órgãos de poder, sempre se viu como teoria politica quando não passa de teoria religiosa, quando a religião já é por si duvidosa todos os argumentos jogam a favor, mesmo tendo a capacidade de funcionar facilmente como contra-argumentos, pelo menos é a única maneira de conseguirmos ver racionalmente esta jogada por parte de várias comunidades religiosas. Achar que a sociedade necessita de cristianismo é acreditar que a religião católica é o próprio milagre, quando nem milagres consegue criar. O cristianismo é oportunista e ao mesmo tempo cobarde. O oportunismo é declarado na tentativa de aproveitamento máximo do processo globalizador que paira sobre o mundo, de forma a instaurar o grande sonho de qualquer religião, a "religião única". É óbvio que este grande objectivo é camuflado, escondido e negado, porque quem o encontrar, quem perceber a sua dimensão percebe também o grande defeito da religião: a constante contradição entre princípios e acção. A cobardia como o oportunismo é mais um ponto fraco da religião, a falta de coragem é para quem aprofunda os processos religiosos, uma imagem de marca. O cristianismo nunca assumiu os seus erros, nunca constatou os factos, refugiou-se sempre atrás de uma suposta verdade. Este livro poderia ser intitulado de uma outra forma, mais justa segundo o ponto de vista dos sensatos: Oportunismo e Cobardia. Mas afinal de contas este livro quer falar de caridade e de verdade, quer falar de caridade cristã e de verdade cristã, quer descobrir o elo comum entre estes dois conceitos, darei o meu humilde contributo. Caridade - " acto de beneficência que exclui qualquer direito de beneficiário e é independente do interesse do benfeitor". Se assim é a igreja cristã exerce caridade? Onde? Quando? Talvez na sede da igreja cristã, o Vaticano. Mas é no Vaticano que os edifícios possuem linhas de ouro, é lá que a riqueza além de se ver, respira-se. É lá que se encontra as vestes do "grande chefe da caridade", cujos valores não são aconselháveis. É lá que se proclama a caridade. Mas onde é que se pratica? Nos seminários, prestando serviços educativos a crianças sem posses? Posso aceitar isso como caridade, mas até aí errei, já que lá ocorrem pecados cometidos por aqueles que supostamente têm a confiança de deus para os perdoar. Tudo isto porque tentar acreditar no cristianismo é errar. E isto leva-nos à segunda parte do título original da obra. Verdade - "qualidade do que é verdadeiro, realidade, certeza, rigor". Será verdadeira a conclusão dos inúmeros julgamentos proferidos pela inquisição? Será verdadeira a vontade da igreja? Será verdadeira a capacidade de perdão em troca de dinheiro? Será verdadeiro o cristianismo? Não, apenas pode haver verdade se houver consciência do que isso significa. E as práticas religiosas vêm no seu deus a grande capacidade de definir o que é verdade ou mentira. Foi assim que conseguiram enganar, mentir e burlar tanta gente quanto o fizeram. As pessoas devem aceitar a verdade criada e manipulada pela sua religião, ou a verdade que elas mesmas conseguiram comprovar e verificar? Estas "pontas mal coladas" são a razão pela qual creio que um chefe religioso não é a pessoa mais indicada para falar da Verdade. Todo o anticapitalismo presente neste "programa eleitoral" da igreja católica faz-me por breves momentos acreditar que a religião pode ser bem intencionada, mas depois lembro-me de todo o capitalismo real e verídico que vejo não nos textos, não nos comunicados mas sim na verdadeira acção religiosa. Toda a capacidade humanitária da igreja chega quase a convencer-me, mas tal como no caso do anticapitalismo, lembro-me da realidade, lembro-me da verdadeira acção humanitária desenvolvida pela igreja. Hoje não convivo com quaisquer hábitos religiosos, mas sempre que tenho que conviver com eles comparo sempre a teoria com a prática, a verdade com a cobardia e a caridade com o oportunismo. O Fundador do Comunismo, esse grande homem das causas sociais, que escreveu por diversas vezes sobre religião, com a intemporalidade que já lhe é característica um dia disse: "A religião é o suspiro da criatura oprimida, o íntimo de um mundo sem coração e a alma de situações sem alma." No comunismo eu consigo ver a verdade, consigo ver a prática mesmo quando ela não existe, na religião apenas vejo a cobardia da prática e o oportunismo da teoria. Chamem-lhe utopia… André Moreira
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