Que futuro? |
Terça, 08 Fevereiro 2011 | |||
Uma Europa acobardada perante os monstros económicos, feridos de morte pela sua derrota ideológica.
Quando percebemos que os governos estão empenhados numa economia de interesses particulares emanada por Bruxelas e EUA, levando à boleia os chamados países emergentes. Quando percebemos que a Europa submissa aos EUA tem dificuldade em condenar ditaduras como a que está agora em causa no Egipto. Quando observamos que os partidos ditos do “arco governativo” se pautam na aposta em política de mercearia, ao sabor dessa economia de interesses. É evidente que estamos numa Europa sem projecto e num país acorrentado no convés, remando ao toque da Alemanha. Pior, com as sucessivas cedências, perdeu mercado e é obrigado a render-se aos mercados especulativos. Tudo isto é acompanhado de um pérfido tratado europeu imposto de forma ignóbil e da falta de coragem de combater um dos principais refúgios do crime financeiro, os offshor. É também o resultado da reviravolta dos mercados financeiros que sentiram a sua vertente ideológica, o neoliberalismo, mergulhar numa crise colocando a banca à beira do colapso e pondo em causa o FMI. Agora, os estados promovem a recuperação deste sistema financeiro falhado, enquanto repensam novas fórmulas para fugir ao desastre ideológico do capitalismo. Estamos por isso, absorvidos por um modelo de sociedade consumista e forjada pela força dos média, na sua maioria na posse de grandes grupos financeiros. PS e PSD desprovidos de um projecto próprio disputam o espaço que este modelo coloca à disposição no carrossel do poder. Os que participam na vida activa, assistem ao desbaratar da força de trabalho, ao desregrar do sistema laboral e ao desmantelamento da organização social. Este retrocesso interessa às elites conservadoras que começavam a ver uma sociedade com direitos e com ambição de redistribuição. Ao contrário, os interesses das elites sustentam-se na acumulação de riqueza à custa da exploração. O resultado está à vista, um clima repressivo quando está em causa o protesto contra a nova ofensiva sobre os trabalhadores e o emprego. A receita assenta em planos de austeridade para pagar a crise da banca. Depois de os estados salvarem a banca, esta, vinga-se nos seus salvadores. Este é o resultado de uma Europa acobardada perante os monstros económicos, feridos de morte pela sua derrota ideológica. Se o modelo capitalista na versão actual neoliberal foi um rotundo falhanço, as medidas de austeridade só nos podem trazer o desmantelamento de uma Europa social, cultural e progressista. O futuro da Europa está ensombrado pela submissão aos mercados financeiros e a ausência de um projecto europeu, “desamparando” o euro. Desta má política, pode resultar que os países a braços com o FMI se vejam na contingência de ter de optar por uma outra moeda, ou um outro “euro” de uma Europa a duas velocidades. O modelo defendido pela direita que predomina na União Europeia está esgotado e já provou que não serve os princípios do projecto europeu. Enquanto assistimos ao aumento preocupante dos combustíveis e dos produtos alimentares à semelhança do que antecedeu a crise em 2008, assistimos ao ataque dos direitos laborais, apoios sociais e salários, seguidos de despedimentos com a pressão do FMI. A progressiva fragilização dos portugueses irá enfraquecer a sua capacidade de luta, contrastando com a sua efectiva vontade de contestar e de inverter o que nos destina o futuro. E sem a luta necessária, pergunta-se, que futuro?
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A Comuna 33 e 34
A Comuna 34 (II semestre 2015) "Luta social e crise política no Brasil" | Editorial | ISSUU | PDF
A Comuna 33 (I semestre 2015) "Feminismo em Ação" | ISSUU | PDF | Revistas anteriores
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