Que futuro? Versão para impressão
Terça, 08 Fevereiro 2011

UE

Uma Europa acobardada perante os monstros económicos, feridos de morte pela sua derrota ideológica.


Artigo de Paulo Cardoso

 

 

Quando percebemos que os governos estão empenhados numa economia de interesses particulares emanada por Bruxelas e EUA, levando à boleia os chamados países emergentes. Quando percebemos que a Europa submissa aos EUA tem dificuldade em condenar ditaduras como a que está agora em causa no Egipto. Quando observamos que os partidos ditos do “arco governativo” se pautam na aposta em política de mercearia, ao sabor dessa economia de interesses. É evidente que estamos numa Europa sem projecto e num país acorrentado no convés, remando ao toque da Alemanha.

Pior, com as sucessivas cedências, perdeu mercado e é obrigado a render-se aos mercados especulativos. Tudo isto é acompanhado de um pérfido tratado europeu imposto de forma ignóbil e da falta de coragem de combater um dos principais refúgios do crime financeiro, os offshor. É também o resultado da reviravolta dos mercados financeiros que sentiram a sua vertente ideológica, o neoliberalismo, mergulhar numa crise colocando a banca à beira do colapso e pondo em causa o FMI. Agora, os estados promovem a recuperação deste sistema financeiro falhado, enquanto repensam novas fórmulas para fugir ao desastre ideológico do capitalismo.

Estamos por isso, absorvidos por um modelo de sociedade consumista e forjada pela força dos média, na sua maioria na posse de grandes grupos financeiros. PS e PSD desprovidos de um projecto próprio disputam o espaço que este modelo coloca à disposição no carrossel do poder.

Os que participam na vida activa, assistem ao desbaratar da força de trabalho, ao desregrar do sistema laboral e ao desmantelamento da organização social. Este retrocesso interessa às elites conservadoras que começavam a ver uma sociedade com direitos e com ambição de redistribuição. Ao contrário, os interesses das elites sustentam-se na acumulação de riqueza à custa da exploração. O resultado está à vista, um clima repressivo quando está em causa o protesto contra a nova ofensiva sobre os trabalhadores e o emprego.

A receita assenta em planos de austeridade para pagar a crise da banca. Depois de os estados salvarem a banca, esta, vinga-se nos seus salvadores. Este é o resultado de uma Europa acobardada perante os monstros económicos, feridos de morte pela sua derrota ideológica. Se o modelo capitalista na versão actual neoliberal foi um rotundo falhanço, as medidas de austeridade só nos podem trazer o desmantelamento de uma Europa social, cultural e progressista.

O futuro da Europa está ensombrado pela submissão aos mercados financeiros e a ausência de um projecto europeu, “desamparando” o euro. Desta má política, pode resultar que os países a braços com o FMI se vejam na contingência de ter de optar por uma outra moeda, ou um outro “euro” de uma Europa a duas velocidades. O modelo defendido pela direita que predomina na União Europeia está esgotado e já provou que não serve os princípios do projecto europeu.

Enquanto assistimos ao aumento preocupante dos combustíveis e dos produtos alimentares à semelhança do que antecedeu a crise em 2008, assistimos ao ataque dos direitos laborais, apoios sociais e salários, seguidos de despedimentos com a pressão do FMI. A progressiva fragilização dos portugueses irá enfraquecer a sua capacidade de luta, contrastando com a sua efectiva vontade de contestar e de inverter o que nos destina o futuro. E sem a luta necessária, pergunta-se, que futuro?

 

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