Mundo árabe pede democracia, ocidente manda esperar Versão para impressão
Terça, 15 Fevereiro 2011

 

Se há matéria que ficou clara com os movimentos pró-democracia no mundo árabe é a verdadeira dimensão da preocupação do ocidente para com as aspirações democráticas de países que, sozinhos, lutam pelos seus direitos. Fica também provada, pela milionésima vez, a hipocrisia latente no discurso da guerra (Iraque e Afeganistão) como um plano de democratização além fronteiras. Um país como os Estados Unidos que tem um método de eleição que esmaga o pluripartidarismo, tem lobbys instalados no senado e afirma-se como uma nação sobre a égide de Deus (quando na realidade está sobre a batuta de Wall Street) não tem muito para ensinar sobre democracia. Pode sim ensinar sobre como manter uma plutocracia (relatório da Citigroup admite isso mesmo) sobre a capa de uma democracia formal que nem sequer respeita os princípios basilares de um estado democrático (a separação entre Estado e Igreja). Até parece que basta podermos votar para haver democracia, a ser verdade eram tolos os tunisinos e os egípcios que saíram à rua...mas não é.

Ironicamente, as invasões imperialistas até poderão ter contribuído para a democratização de alguns países do Magrebe, mas não da forma que era evocada. A ocupação norte americana, a xenofobia anti-islâmica primária, a posição americana no conflito israelo-árabe, as centenas de milhares de mortos civis inocentes: todos estes são catalisadores para agitar uma população oprimida por ditadores que, até à data, tinham o beneplácito da casa branca. Mas olhando para o Egipto percebemos que existe um catalisador especial, um catalisador que faz estremecer a Europa. Esse catalisador é o desemprego e amedronta a Europa de Merkel e Sarkozy porque também ela tem esse catalisador, e tudo está bem deste que os problemas do povo europeu não saiam às ruas. Hosni Mubarak faltou a uma aula muito importante do capitalismo ocidental: manter níveis de desemprego suficientemente aceitáveis para que não haja descontentamento geral. É um equilíbrio ténue é certo, e ultimamente a Europa sentiu o que é andar nos limites do descontentamento geral. Se nas televisões não aparecem as diversas convulsões por essa Europa fora, tal não invalida que elas sejam reais. Não se manipulam as estatísticas do desemprego em Portugal ao acaso, Sócrates conhece bem as regras da “estabilidade” podre.

Mas se ânsia por democracia por parte dos egípcios urge, já a Ocidente se aconselha a calma e prudência. Calma e prudência? Mas criaram-se guerras sanguinárias na luta pelo controlo geo-estratégico do petróleo fingindo que se tinha preocupações democráticas e depois pretende-se refrear as aspirações democráticas de um povo auto-determinado? Parece que os egípcios não foram sensíveis à moderação de quem quer que tudo fica na mesma e vivem hoje a alegria da partida de Mubarak, graças à teimosia de quem assume a luta até ao fim.

Democracia oferecida não existe, ela custa sangue, suor e lágrimas e quem não percebe isso vai sempre acreditar nos “messias” que dizem o que devemos fazer. Vamos continuar a ouvir os “especialistas de economia” a dizer que a economia portuguesa precisa de baixar os custos do trabalho para ser competitiva ou vamos construir uma sociedade orientada para a sustentabilidade social e ecológica? Vamos continuar a ser os “parvos” que deixam que os “espertos” nos digam o que o país precisa? Vamos apontar o dedo para os pobres que recebem o rendimento mínimo ou vamos lutar contra os que dizem que os mercados financeiros não devem ser hostilizados? Não há consensos moles, o pantano português precisa de uma resposta. Porque lutar pela democracia é lutar pelas condições de vida das pessoas, a internacionalização da luta dos povos é caminho do progresso social. A Tunísia e o Egipto deram o mote...

João Dias

 

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