Não basta mudar as moscas Versão para impressão
Quarta, 23 Março 2011

Estes últimos dias mostraram a extrema dramatização a que Sócrates resolveu recorrer para entalar o PSD, desencadear uma crise governativa e justificar a futura entrada formal do FMI.

Hoje muitas centenas de milhares de pessoas interrogam-se sobre se irão ver já diminuídas as reformas ou se irão ficar sem o subsídio de férias. A dramatização provocou um amedrontamento geral da população e reforçou a alergia aos políticos. Mas a dramatização foi também a resposta ao descontentamento expresso nas ruas a 12 e 19 de Maio lançando um manto de demagogia, medo e até pânico sobre as pessoas reforçando a instabilidade geral.

A precipitação das eleições talvez tenha livrado o PS de uma nova greve geral – mesmo com o vergonhoso acordo com a UGT - mas a luta não pode desanimar, precisa é de incentivo.

A dramatização reforçou ainda as ideias populistas dos que defendem o “interesse nacional” acima de tudo, de que o governo deveria ser de “homens bons”, “independentes de interesses” ou “técnicos capazes” como se a política não fosse a razão das escolhas.

Comentadores de verbo fácil invocam o “cansaço” face a sucessivos actos eleitorais, a “ânsia do poder”, os gastos com as eleições e as campanhas (Paulo Portas já começou a cavalgar isso) e sucessivos argumentos denegrindo a luta política em transformando o confronto de opções de classe em meros jogos partidários de uma classe política deprimente – como se fossem todos iguais.

Se há nota decisiva que se realça deste período ela está em todo o enorme esforço que as elites burguesas fizeram para um consenso PS/PSD. Esse esforço vai continuar porque a brutalidade crescente da política neoliberal exige maiorias mais fortes e acordos de regime mais consistentes. Essa brutalidade torna cada vez mais indiferente qual é o partido que ocupa o governo pois a linha política está determinada.

As moscas podem ser diferentes mas elas estão em volta do mesmo. O PS foi governo fazendo a política do PSD e se este for governo entra na porta que Sócrates lhe abriu. E se a burguesia mandar o PS lá estará no governo para a servir fielmente.

Tudo isto marca um quadro político novo e talvez único desde o 25 de Abril. A instabilidade geral, o populismo com influência de massas, mas também um desemprego record, colocam-nos desafios muito difíceis mas extraordinários. Enfrentaremos as dificuldades e lutaremos pelo reforço da esquerda no parlamento e na cidadania.

A novidade das próximas eleições só poderá ser um reforço da esquerda que se apresente como uma forte oposição ao futuro governo PS/PSD ou PSD/PS, com ou sem CDS.

Victor Franco

 

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