Pós-eleições – a previsibilidade do futuro Versão para impressão
Terça, 05 Julho 2011

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Os resultados do passado dia 5 de Junho confirmaram uma viragem à direita, que se tem vindo a verificar um pouco por toda a Europa. Parece justo afirmar que, se dúvidas havia do rumo governativo que o Estado Português iria tomar com esta aliança do extremismo neoliberal de Passos Coelho com o conservadorismo democrata-cristão de Portas, estas se dissiparam rapidamente. O capital está, progressivamente, ao ataque - com o compadecimento da União Europeia - e Portugal caminha para a bancarrota e para o mais brutal ataque aos direitos sociais e laborais alguma vez presenciados na história da democracia portuguesa.


A nova composição da Assembleia da República merece, por si só, uma análise. A obtenção da tão necessária maioria governativa que Cavaco reclamava com objectivo último de permitir a estabilidade política de forma a pagar a ‘ajuda’ externa da troika materializou-se na aliança, desde logo previsível, do PSD com o CDS/PP. Esta semana, com a apresentação do programa de Governo, foram desvendadas as ‘prendas de Natal’, e não só, que serão gentilmente oferecidas aos Portugueses.


O PSD, em êxtase, com o líder mais neoliberal dos últimos anos prometeu e está a cumprir – este Governo irá mais longe nas suas medidas do que aquilo que ficou acordado no memorando da Troika. Passos Coelho tem nas suas veias o fervilhante sangue neoliberal que o impulsiona a, cada vez mais, querer tornar-se num obediente discípulo de Angela Merkel. A necessidade de demonstrar que pode privatizar tudo o que é possível já era previsível. No entanto, auxiliado pelos tiques conservadores de Portas e pela bandeira de que todos aqueles que recebem subsídios são ‘preguiçosos’ assistimos à materialização dos desprezo pelos mais desfavorecidos na obrigação, por parte dos subsidiários do desemprego, de trabalhar de graça para as IPSS’s ou para as misericórdias. Este atropelo aos direitos das pessoas toma expressões práticas e decerto que não se ficará por aqui.


Por outro lado, aqueles que depositam as suas esperanças no PS só poderão ser, novamente, defraudados. Por hábito, quando se encontra na oposição, o PS, desfralda as bandeiras da esquerda e do socialismo. Ainda assim, e tendo a sua assinatura no memorando da troika, o seu papel como oposição está reduzido à crítica ao PSD/CDS quando estes forem além do mesmo documento. Excepção feita a este caso, irá alinhar sempre com o Governo. Desta forma, o mote “Nada esperamos do PS” está mais actual do que nunca.


O Bloco saiu fragilizado das urnas. O decréscimo do número de deputados assim o afirma. No entanto, fragilizado não significa derrotado. Os ecos que nos chegarão do trabalho desses mesmos deputados serão bem audíveis. Continuaremos a incomodar o capital e a ordem social hierarquizada instituída e, por isso mesmo, o Bloco de Esquerda continuará a ser o principal alvo a abater por parte da intelligentsia do arco governativo. E é esta a nossa missão. Não nos compete assistir impávidos e serenos àquilo que se passa nas ruas e no Parlamento Grego. Muito menos nos compete, compactuar com este saque à democracia que esta Europa está a fazer. Começou na Grécia, passou pela Irlanda e os seus efeitos cedo se sentirão em Portugal. Espanha e Itália serão os próximos. PIGS é nome atribuído pelos economistas aos países do Mediterrâneo que a Europa tem sob a sua mira. A esquerda europeísta deve lutar para que este saque brutal pare. A esquerda europeísta tem, mais do que nunca, a missão de sensibilizar e consciencializar as pessoas de que esta ‘ética social na austeridade’ que eles tanto apregoam não passa de um falso embelezamento no roubo de que vamos ser alvo.


Se durante anos nos disseram que Portugal ‘está de tanga’, e é sempre necessário ‘apertar o cinto’, a questão impõe-se… quando chegará a hora do capital financeiro apertar o cinto? Quando chegará a hora daqueles que efectivamente vivem acima das suas possibilidades paguem com as suas obrigações à Sociedade? Os próximos anos serão anos duros para os portugueses, que verão os seus direitos diminuírem e as suas obrigações aumentarem, tudo em nome crescimento económico do capital financeiro, dos interesses da Alemanha e da troika. A luta é intemporal e está na hora da mesma se intensificar.

Cláudia Ribeiro

 

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