Do blanquismo e outras irresponsabilidades Versão para impressão
Terça, 11 Outubro 2011

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A ideologia da inevitabilidade da austeridade tem ganho espaço de massas, neutralizado sectores combativos e enfraquecido a esquerda.

É notória a aparente passividade com que milhões de pessoas assistem ao desenrolar contínuo de medidas cada vez mais duras e recessivas. As recentes eleições para a Assembleia Legislativa Regional da Madeira foram uma espécie de 2ª volta das legislativas: silenciamento e ataque ao BE, favorecimento descarado ao CDS, tempo de antena alargado para o PSD; as mesmas componentes ideológicas: submissão a medidas duras, defesa da estabilidade governativa – tudo palavrinhas doces para um acordo PSD/CDS sem Alberto João…

No quadro político que vivemos é muito difícil fazer melhor; a coragem de luta evidenciada pelos activistas que lutam em piores circunstâncias, como as Madeira, deve ser merecer a nossa referência e apoio – é nos piores momentos que se conhecem os amigos.

Mas as dificuldades da luta não nos devem baixar os braços. Precisamos de continuar a procurar disputar a consciência social e a tentar romper o cerco ideológico da inevitabilidade da austeridade. Neste momento de profundo refluxo, as propostas de luta assumem conteúdos mais precisos, não só porque necessitam de apresentar alternativas às medidas do regime, precisam de dar vazão e incentivar todas as vontades de luta (e até um certo descontentamento contra tudo e contra todos), como necessitam afirmar que a dignidade não se vende. A dignidade do trabalho e da esquerda está hoje colocada em xeque pelo trio governo/troika/PS. Aceitar uma sucessão interminável de ataques e medidas quase sem um queixume, quase sem um protesto é aceitar a submissão “canina” é aceitar perder a nossa dignidade.

O que está em causa neste momento não é a derrota das medidas governamentais, o movimento social não tem quaisquer forças para isso, o que está em causa é protestar e manifestar a nossa indignação.

A nossa indignação pode ser materializada numa greve geral de protesto; neste momento, mais importante do que os valores da adesão é assumir que ela se realiza. A greve, hoje, não representa a imagem mítica do período pré-insurreccional, a greve, hoje, é, tão só, um assomo de dignidade e de exigência de respeito.

Alguns pequenos grupos, como o Ruptura/Fer defendem consecutivas greves gerais, “todos os meses do ano”, assumindo uma concepção aventureira e irresponsável da luta política que frequentes vezes parece revisitar o blanquismo. Estes grupos não estão preocupados com acumulação de forças, procura de alianças ou confluências de vontades e sinergias, estão preocupados em ser o novo farol do radicalismo sectário que ainda deverá dividir mais a esquerda. O regime agradece.

Outros, fechados sobre si próprios, defendem saídas nacionalistas submersos na ilusão de que as medíocres elites portuguesas possam alguma vez ter uma atitude progressista e assumir uma voz autónoma face à burguesia europeia rompendo com toda a sua natureza material e histórica; é a versão portuguesa do nacional-desenvolvimentismo assente na defesa da saída do euro de consequências dramáticas para a população. Tal como a anterior, esta proposta em nada tem em conta, afinal, o seu lugar de aplicação: o povo; em consequência, é também uma irresponsabilidade.

O povo, pá, é afinal a razão da nossa luta!

 

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