DO RIO SE DIZ QUE É VIOLENTO Versão para impressão
Quarta, 30 Novembro 2011

greve_geral

As políticas de uniformização da diversidade e de estabilização do conflito são orientadas para garantir ao arbítrio da finança a manutenção do domínio do concreto através do virtual e da submissão da vida social aos interesses da vampiragem sem freio.

Apesar de toda a operação ideológica determinada pelo governo e assumida galhardamente pelos media em geral – mesmo a crítica está confinada à premissa da não alternativa sistémica – têm suscitado uma resposta geral de contestação.

Embora de forma difusa nos sectores mais recuados sustentando uma certa complacência em nome da salvação dos dedos, a população em geral sente-se não apenas assaltada mas violentamente injustiçada. Um assalto à mão armada em que a justiça institucional está do lado dos assaltantes.

A cobertura mediática das medidas altamente gravosas que têm como consequência a desestruturação da sociedade quanto aos parâmetros atingidos pela evolução civilizacional iniciada com o 25 de Abril e constitucionalmente consagrados, mais a tentativa de silenciamento ou a efectiva minimização de políticas alternativas e teoricamente bem sustentadas, não conseguem impedir uma resposta cada vez mais veemente dos que sofrem (os 90%) as consequências brutais da política do governo e da abstenção violenta do PS.

A Greve Geral serviu, como se esperava e não mais, para acalentar o sentido do colectivo e da unidade como suporte de lutas futuras que, não é preciso deitarmo-nos a adivinhar, vão romper aqui ou ali e aqui e ali ao mesmo tempo em convergências de índole superior.

A consciência que se vai apurando e a determinação que se vai fortalecendo serão marcas da luta que, de forma cada vez mais aberta, assumirá o carácter de luta anti-capitalista, política e não “apenas” sindical, reivindicativa ou de protesto

II

Aqueles que por nós zelam e detêm o privilégio da vigilância e da legalidade da força bruta – agora desde que descobriram a proporcionalidade sentem-se aptos a todas as bestialidades como deixou entender o chefe da polícia em gesticulantes declarações à TV justificando a bárbara agressão a um cidadão no dia da Greve Geral - sedimentam e decantam uma experiência secular e multímoda que, depois de ter sido legitimamente anatematizada e tornada coisa reles no espírito cidadão, durante o terrível PREC, cedo recuperou estatuto e agora sente-se de asas soltas, descoberto que foi o terrorismo, de novo o anarquismo e o extremismo de esquerda, inspirada  no patriotic act, na violência e na tortura como forma de evitar males maiores à sociedade.

O mundo da defesa do Estado democrático tem razões fortes que a democracia desconhece, encerra uma panóplia de elementos convergentes todos eles devedores moralmente, mas também pedagogicamente, dos pais fundadores: a inquisição, Pina Manique, a Gestapo em lições intensivas com ajudas de custo, a PVDE, a PIDE, o SNI instrumento da ditadura do Brasil e integrante da Operação Condor , a CIA, a Mossad. No fundo as garantias últimas de que, hoje, com a experiência secular, a sociedade global da espoliação, da exclusão e do massacre permanecerá ad eternum, finada que foi a história.

Já em 1976 a DINFO criada sob os auspícios de Eanes para «combater o terrorismo bombista que assolava o país», perante a evidência de que os chefes do terrorismo eram pilares da pátria e da nação como veio a comprovar-se - Spínola e Alpoim Calvão entre outros -  retirou-se subtilmente da investigação ao assassinato, à bomba, do Padre Max e da estudante Maria de Lurdes.

Simbologia compósita se tivermos em conta que foi perpetrado no próprio dia da promulgação da Constituição a 2 de Abril de 1976. Foi a PJ que, apesar das contradições internas surgidas na altura, conseguiu levar a bom cabo displicente recolha de provas mais de uma semana depois, garantindo-nos que não se avançava mais por grande parte delas ter desaparecido.

A DINFO seguiu o seu caminho não sem uma profícua colaboração com os GAL , organização semi-secreta ao serviço da polícia espanhola, no assassinato de etarras e patriotas bascos e pelo meio, como ficou provado, de cidadãos que, se não estivessem mortos, ainda hoje se interrogariam das razões por que a morte lhes batera à porta “num dia assim”.

III

O dia grande de uma bela greve geral provou uma vez mais que o governo, aldrabão e cobarde, não está à altura daqueles que o combatem e a polícia é uma presença democrática para nos familiarizar com o fascismo pós-moderno.

A provocação sempre foi um procedimento canónico desta gente – como aliás mostram os filmes – e no dia 24 ela fez parte do dia.
Mas ainda não estão à altura das provocações a sério, em que as coisas ardem mesmo e as pessoas morrem mesmo, como no Reichtag e no 11 de Setembro de 2001 (a comparação é forçada, o caso ainda não é para tanto mas sempre devemos lembrar-nos dos casos em que a realidade ultrapassa a ficção).

Isto para dizer, aqui para nós, que só polícias ou equivalentes é que lançam cocktails molotov (?) que não rebentam, não foi um que falhou foram os dois, não foi um acidente foi uma orientação: dar à imprensa o mote, os gajos são perigosos; mas não deitar fogo às repartições.

Já agora e sem ofensa, a imprensa de língua de fora à espera da hóstia, ficou alarmada com a presença de um estrangeiro na manif (SIC) - faz lembrar os tempos do inimigo caviloso e traiçoeiro que vem do estrangeiro perturbar a boa ordem nacional) - mas não se lembrou de questionar «o estranho caso da inércia dos cocktails molotov» - título à Ellery Queen.

E ficou alarmada porque as autoridades competentes disseram que era caso para alarme. Os Chefes, Comandantes, mais que os ministros que neles delegam a cretinice alarve da acção psicológica pró-porrada, encarregam-se de tentar encostar a cidadania às baias, com a ameaça do estrangeiro, num mundo em que desde o dinheiro aos trabalhadores tudo é internacional.

As centrais sindicais ficaram gratas por o cinismo do poder as ter colocado na prateleira do bom comportamento.

Mas sabem bem que é a elas que o poder teme. Por isso mesmo não fica mal recusar a menção honrosa e colocar claramente a questão – e os partidos de esquerda devem dar sinal político disso - de que os trabalhadores perante a violência social e política extrema que os ataca e perante a violência policial que os assedia e tenta cercar sabem responder “proporcionalmente” como está na moda, aliás.

Mário Tomé

 

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