MOTE
Vós, ó mães idolatradas, Façam por não verem mais Crianças abandonadas, Tísicas — nos hospitais.
GLOSAS
Sim, vós, ó mães carinhosas, Criai as vossas filhinhas, Educai-as de criancinhas, Mas não em leis religiosas, Que essas leis são perigosas, E p'los homens inventadas. Não sigam, pois, enganadas Pelos padres sem consciência, E amem o deus-Providência, Vós, ó mães idolatradas!...
Se quereis ver a religião, Já noutro tempo atrasado, Leiam um livro chamado «Mistérios da Inquisição»... Lendo aí, compreenderão Como as pessoas reais Mandaram fuzilar pais E mães sem fazerem mal. Padres e gente real, Façam por não verem mais.
E quando se saiba amar Como irmãos, em toda a terra, Bombas, revoluções e guerra Para sempre hão-de acabar; Nem mais se hão-de encontrar Mulheres «matriculadas» — Infelizes que, desonradas, Ali procuram a morte, Deixando, aos vaivéns da sorte, Crianças abandonadas.
Hão-de acabar os ladrões, Os patifes, os mariolas — Quando se fizerem escolas Das igrejas e prisões. Hão-de acabar os patrões, Que são prejudiciais — Comprando bons enxovais P'ràs suas filhas — enquanto As dos pobres vertem pranto, Tísicas — nos hospitais.
António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."
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