O desemprego oficial atingiu os 15% e há 35,4% de desemprego jovem. Segundo previsão do Banco de Portugal, este ano haverá uma redução de 3,6% do emprego e o PIB vai diminuir em 3,4%. Os salários caem 1,7%. E dá-se uma queda de 7,9% na receta fiscal. Não seria melhor virar à Esquerda? Como? É neste contexto que podemos contar, desde já, com o PS para: ora se abster violentamente no Orçamento, ora violentamente se abster no Código de Trabalho. Estando além disso o voto favorável prometido a todas as medidas que decorram do memorando da Troika. Apesar das divisões na bancada, acerca das alterações ao Código de Trabalho, é assim que reza a declaração de voto feita pela direção de bancada do PS e subscrita por 55 deputados: “O PS votará favoravelmente as soluções normativas que integram a Proposta de Lei (…) e que objetivamente concorrem para o cabal cumprimento dos compromissos assumidos no Memorando de Entendimento ou que, afastando-se deste, conduzam a um reforço dos direitos e garantias dos trabalhadores".
A austeridade só serve para destruir a economia e a vida de milhões de pessoas com o objectivo de acumulação por parte de uma minoria de exploradores. E o motor dessa austeridade é a Troika. Ainda assim, há quem, na angústia com a procura de "soluções" instantâneas à esquerda, argumente com "o Governo é pior do que a Troika" para justificar como "solução" uma aritmética simples em que a soma PS, PCP e Bloco de Esquerda poderia ser feita engolindo o memorando original e a decorrente "austeridade inteligente" de António José Seguro. Quem o propõe cede à doutrina da inevitabilidade, cede à política do empobrecimento. Não há nada de inteligente na destruição da economia. Talvez a esperteza de uma minoria de exploradores que se abotoam com os despojos do saque, mas inteligência não. E não há alianças à esquerda que não sejam baseadas na defesa do salário. À esquerda exige-se o combate aberto à intervenção externa: o combate à Troika e ao seu governo. Tudo o que seja menos do que isso é capitular. Os partidos de esquerda têm um papel fundamental, são eles quem dará corpo a uma alternativa política. Porém nada se progride sem que se gere uma maioria social por uma alternativa de esquerda. Essa maioria será traduzida politicamente nos partidos que a representarem em toda a sua diversidade. A alternativa não é uma simples soma artificial de partidos como os pensamentos menos elaborados fazem crer. Não há soluções instantâneas. Greves gerais e sectoriais, protestos e manifestações serão a principal arma do povo contra a Troika e o seu governo. Uma maioria social que se oponha à política do empobrecimento é o primeiro grande passo para uma alternativa de poder que assuma uma auditoria à dívida e lhe dê consequências: rejeitando a parte da dívida que é ilegítima e renegociando a dívida. Uma maioria que inicie políticas para uma economia baseada no emprego e na produção.
Bruno Góis
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