Morreu um camarada e lutador incansável Versão para impressão
Terça, 24 Abril 2012

MiguelPortas

"Sou de esquerda porque a minha mãe me proibia de deixar comida no prato, porque tinha de dar aos pobres a melhor prenda que recebia no Natal. Fui habituado à renúncia. E também sou de esquerda porque fui sempre um filho difícil, habituado a dizer não. O meu processo de afirmação foi contra".

Esta é uma das frases mais conhecidas do Miguel e espelha o seu carácter inconformista e o seu espírito questionador.

Durante cerca de 10 anos, partilhei variados momentos com o Miguel. Estivemos ambos, durante alguns anos, na Comissão Política e estávamos ainda na Mesa Nacional do Bloco. Tivemos largos debates, debates que caracterizam pessoas que lutam pela construção da alternativa de esquerda, pessoas que são plurais e discutem abertamente as opiniões diferentes. Discordávamos de algumas coisas mas muito mais eram aquelas que nos uniam e faziam juntar forças.

Viemos de lugares e olhares diferentes sobre a luta e sobre o comunismo mas era comum o projeto de construir a luta da esquerda na casa comum da pluralidade, da esperança e dos caminhos plurais do socialismo.

“Habituado a dizer não” o Miguel animava o debate. Esse inconformismo e esse exercer da dialética terá estado presente na sua rutura com o PCP e com o dogmatismo. Alguns dos que então romperam com o PCP juntaram-se no conforto do regime, dos seus partidos e em lugares muito bem pagos de Conselhos de Administração, preferiram abandonar a luta e a procura de caminhos à esquerda.

Miguel Portas optou pelo caminho mais difícil o caminho da insubmissão e da coragem para construir um projeto novo a começar do zero. O camarada Miguel, lutador incansável, foi um dos construtores fundamentais de um dos melhores projetos da esquerda europeia: o Bloco de Esquerda.

Neste momento em que o 25 de Abril comemora 38 anos, atacado pelo “ditadura” troikista e por uma ideologia que junta austeridade e autoritarismo a insubmissão popular faz a emergência da cidadania.

Como ele, vale a pena continuar a dizer não e continuar insubmisso.

Victor Franco

 

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