O papel das mulheres curdas Versão para impressão
Sexta, 18 Janeiro 2013

 

mulheres curdasOs/as curdos/as são a maior etnia sem Estado do mundo (estima-se que sejam entre 26 a 36 milhões de pessoas), e habitam uma vasta região do Oriente que ultrapassa as fronteiras da Turquia, abrangendo partes do Iraque e do Irão, principalmente.
Com vista á reunificação do território e á criação de um Estado curdo foi formado em 1978 o PKK (Partido dos trabalhadores do Curdistão), uma organização Curda, que defende a criação de um estado autónomo e reivindica mais direitos culturais e políticos para os/as curdos/as, especialmente na Turquia, onde se localiza grande parte do território curdo.
O PKK, tal como outras organizações independentistas, aderiu á luta armada, sendo formado por unidades de guerrilha (tendo sido reconhecido como grupo terrorista a nível internacional). Algumas unidades de guerrilha são exclusivamente formadas por mulheres, que “seduzidas” pelos ideais feministas da organização, aceitam fugir para as montanhas, pegar em armas e entrar em combates. A ideia de que a organização entende os problemas que as mulheres enfrentam tem sido uma ferramenta eficaz de recrutamento e o partido proíbe os relacionamentos entre os/as combatentes o que permite que as famílias curdas autorizem a ida das filhas para as montanhas, confiantes de que a sua “dignidade” permanecerá intacta. Mas as mulheres do PKK não são de forma alguma protegidas nos combates, e há cerca de 9 meses atrás o exército Turco matou cerca de 15 mulheres combatentes na fronteira sudoeste.
No dia 10 de janeiro, acordámos com a notícia da morte de mais três ativistas curdas, desta vez em Paris, executadas de forma profissional com um tiro na cabeça. Sakine Cansiz, fundadora do PKK, Fidan Dogan, representante do KNK (Congresso Nacional do Curdistão), e Leyla Soylomez, ativista, foram executadas na altura em que o governo Turco se prepara para retomar as negociações com Abudallah Ocalan, líder do PKK (e condenado a prisão perpétua pelo Estado turco, sendo o único habitante da ilha-prisão de Imrali) com vista a um processo de paz. Para tal o PKK exige que o governo turco reconheça os direitos políticos e culturais do povo curdo assim como uma melhoria substancial das condições da prisão do líder do partido, preso desde 1999, depois de ter sido capturado no Quénia pelos serviços secretos turcos com o auxílio da CIA.
Neste contexto, estas três execuções despertam todo o tipo de especulações sobre a finalidade das mesmas. No entanto, convém ter claro que o assassinato de três mulheres independentistas que dedicam a sua vida a defender os direitos políticos e culturais de um povo só pode beneficiar o Estado opressor e os seus aliados.
Falamos de uma guerra não declarada onde mais de 40 000 mil curdos/as perderam a vida, com a conivência das principais potências europeias.
Em 2010, na altura da realização da III Ação Internacional da Marcha Mundial de Mulheres (MMM), que aconteceu em Istambul, na Turquia, inúmeras companheiras das coordenadoras europeias desta organização, incluindo portuguesas, tiveram oportunidade de contactar com inúmeras activistas curdas que em palestras e debates discutiram as suas reivindicações politicas e culturais como um povo.
Uma das companheiras da coordenadora galega relata que estas mulheres mostraram às outras mulheres vindas de toda a Europa a força e a convicção dum povo que luta pela sua independência, o papel fundamental que as mulheres têm nessa luta e a sua coragem num Estado que lhes nega a identidade e a cultura e proíbe todas as manifestações públicas que reconheçam a existência de um povo curdo. Estas mulheres mostraram a importância das mulheres tanto nos combates como nas direções políticas dos partidos, reclamando como indissociável a luta pela emancipação das mulheres com a luta pelos direitos do povo curdo.
Outra companheira da coordenadora portuguesa relembra como coube a estas mulheres encabeçar a manifestação pelas ruas de Istambul cantando na sua língua, vestindo os seus trajes tradicionais, pedindo a liberdade para o povo curdo, desafiando as leis da Turquia, que proíbem a língua curda ou os seus trajes tradicionais, correndo o risco de serem presas por uma força policial com poderes outorgados pelo governo turco e que em muitos dos casos acabam assassinadas. 
Uma das manifestações a que as companheiras tiveram oportunidade de assistir foi “As mães de sábado”, onde as mulheres curdas tomam para si a tarefa de denunciar os desaparecimentos de familiares e amigos/as, através de uma manifestação silenciosa.
Como refere novamente a companheira da coordenadora galega, pensamos em todas estas mulheres ao tomar conhecimento do assassinato destas três activistas que lutavam pela liberdade. É justo reconhecer a importância de todas, que como elas, põe todos os dias as suas vidas em risco por defender a sua identidade e protagonizam um papel determinante na luta pelos direitos do povo curdo.
Que não existam dúvidas! Estas mulheres foram assassinadas em Paris por defenderem a luta curda pelo mundo.
Termino com o lema da MMM que me parece perfeito:
MULHERES EM MARCHA ATÉ QUE TODAS SEJAMOS LIVRES!

Vânia Martins

 

Nota: Este artigo foi escrito com o auxílio dos relatos das companheiras da MMM através do Boletim mensal desta organização.


O papel das mulheres curdas

Os/as curdos/as são a maior etnia sem Estado do mundo (estima-se que sejam entre 26 a 36 milhões de pessoas), e habitam uma vasta região do Oriente que ultrapassa as fronteiras da Turquia, abrangendo partes do Iraque e do Irão, principalmente.

Com vista á reunificação do território e á criação de um Estado curdo foi formado em 1978 o PKK (Partido dos trabalhadores do Curdistão), uma organização Curda, que defende a criação de um estado autónomo e reivindica mais direitos culturais e políticos para os/as curdos/as, especialmente na Turquia, onde se localiza grande parte do território curdo.

O PKK, tal como outras organizações independentistas, aderiu á luta armada, sendo formado por unidades de guerrilha (tendo sido reconhecido como grupo terrorista a nível internacional). Algumas unidades de guerrilha são exclusivamente formadas por mulheres, que “seduzidas” pelos ideais feministas da organização, aceitam fugir para as montanhas, pegar em armas e entrar em combates. A ideia de que a organização entende os problemas que as mulheres enfrentam tem sido uma ferramenta eficaz de recrutamento e o partido proíbe os relacionamentos entre os/as combatentes o que permite que as famílias curdas autorizem a ida das filhas para as montanhas, confiantes de que a sua “dignidade” permanecerá intacta. Mas as mulheres do PKK não são de forma alguma protegidas nos combates, e há cerca de 9 meses atrás o exército Turco matou cerca de 15 mulheres combatentes na fronteira sudoeste.

No dia 10 de janeiro, acordámos com a notícia da morte de mais três ativistas curdas, desta vez em Paris, executadas de forma profissional com um tiro na cabeça. Sakine Cansiz, fundadora do PKK, Fidan Dogan, representante do KNK (Congresso Nacional do Curdistão), e Leyla Soylomez, ativista, foram executadas na altura em que o governo Turco se prepara para retomar as negociações com Abudallah Ocalan, líder do PKK (e condenado a prisão perpétua pelo Estado turco, sendo o único habitante da ilha-prisão de Imrali) com vista a um processo de paz. Para tal o PKK exige que o governo turco reconheça os direitos políticos e culturais do povo curdo assim como uma melhoria substancial das condições da prisão do líder do partido, preso desde 1999, depois de ter sido capturado no Quénia pelos serviços secretos turcos com o auxílio da CIA.

Neste contexto, estas três execuções despertam todo o tipo de especulações sobre a finalidade das mesmas. No entanto, convém ter claro que o assassinato de três mulheres independentistas que dedicam a sua vida a defender os direitos políticos e culturais de um povo só pode beneficiar o Estado opressor e os seus aliados.

Falamos de uma guerra não declarada onde mais de 40 000 mil curdos/as perderam a vida, com a conivência das principais potências europeias.

Em 2010, na altura da realização da III Ação Internacional da Marcha Mundial de Mulheres (MMM), que aconteceu em Istambul, na Turquia, inúmeras companheiras das coordenadoras europeias desta organização, incluindo portuguesas, tiveram oportunidade de contactar com inúmeras activistas curdas que em palestras e debates discutiram as suas reivindicações politicas e culturais como um povo.

Uma das companheiras da coordenadora galega relata que estas mulheres mostraram às outras mulheres vindas de toda a Europa a força e a convicção dum povo que luta pela sua independência, o papel fundamental que as mulheres têm nessa luta e a sua coragem num Estado que lhes nega a identidade e a cultura e proíbe todas as manifestações públicas que reconheçam a existência de um povo curdo. Estas mulheres mostraram a importância das mulheres tanto nos combates como nas direções políticas dos partidos, reclamando como indissociável a luta pela emancipação das mulheres com a luta pelos direitos do povo curdo.

Outra companheira da coordenadora portuguesa relembra como coube a estas mulheres encabeçar a manifestação pelas ruas de Istambul cantando na sua língua, vestindo os seus trajes tradicionais, pedindo a liberdade para o povo curdo, desafiando as leis da Turquia, que proíbem a língua curda ou os seus trajes tradicionais, correndo o risco de serem presas por uma força policial com poderes outorgados pelo governo turco e que em muitos dos casos acabam assassinadas. 

Uma das manifestações a que as companheiras tiveram oportunidade de assistir foi “As mães de sábado”, onde as mulheres curdas tomam para si a tarefa de denunciar os desaparecimentos de familiares e amigos/as, através de uma manifestação silenciosa.

Como refere novamente a companheira da coordenadora galega, pensamos em todas estas mulheres ao tomar conhecimento do assassinato destas três activistas que lutavam pela liberdade. É justo reconhecer a importância de todas, que como elas, põe todos os dias as suas vidas em risco por defender a sua identidade e protagonizam um papel determinante na luta pelos direitos do povo curdo.

Que não existam dúvidas! Estas mulheres foram assassinadas em Paris por defenderem a luta curda pelo mundo.

Termino com o lema da MMM que me parece perfeito:
MULHERES EM MARCHA ATÉ QUE TODAS SEJAMOS LIVRES!

*Este artigo foi escrito com o auxílio dos relatos das companheiras da MMM através do Boletim mensal desta organização.

 

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