A censura também é popular Versão para impressão
Sexta, 15 Novembro 2013

sintagmasquaregreeceO parlamentarismo de esquerda tem de ser feito da base para o topo e acompanhando sempre a base e as suas necessidades, compreendendo as populações e grupos organizados em movimento e trabalhar com eles e para eles.


Artigo de Diogo Barbosa

 

A polícia invade a ERT na Grécia e o Syriza apresenta uma moção de censura ao governo, que é chumbada, mas a luta e as vozes de protesto continuam a ser ouvidas na rua.

O que está em causa não é a moção de censura que o Syriza apresentou no parlamento para derrotar a coligação governativa da troika, que tem como principal rosto Antonis Samaras. O que está em causa é que após a última crise do capitalismo, passando da ideologia neoliberal para o caminho neoconservador, temos agora uma espécie de regresso a um modelo social repressivo, opressor e com carácter de ditadura do medo por via da economia e das ameaças, de que temos de seguir a austeridade para ficarmos no Euro e na Europa, ao que se junta a narrativa de que as troikas espalhadas pela Europa já estão quase a ir embora, e, é tempo de pensar o pós troika.

Ora, o laboratório social onde o capital faz as suas experiências, onde as pessoas são tratadas como ratinhos, tem precisamente a sua face mais visível na Grécia e vai seguir caminho por todos os países do Sul da Europa e periféricos para alimentar as ânsias do capital utilizando como estratégia empobrecer as populações. A moção de censura apresentada pelo partido de Alexis Tsipras é apenas um sinal da revolta popular na Grécia pelas vítimas do assalto da troika, e o caminho para Portugal é o mesmo, apesar de Passos Coelho dizer que Portugal não é a Grécia.

Prestemos atenção a alguns pormenores, tanto na Grécia, como em Portugal, de como estamos a ser vítimas de uma nova criação de modelo social e de novas formas de ditadura. Os direitos ao trabalho, saúde, educação como os conhecemos, ou melhor conhecíamos, estão neste momento a ser delapidados e enterrados cada vez mais apenas por razões de defesa do Estado mínimo. Os salários baixaram, e vão baixar cada vez mais, a educação é cada vez mais cara e elitista e a saúde seguramente não chega a todos devido ao seu encarecimento.

Esta nova forma de experiência social leva a que em toda a escala a sociedade dos direitos adquiridos que conhecemos, do Estado Providência e da garantia dos direitos das pessoas a serem livres, está a ir por água abaixo. A forma como na Grécia ser contra esta (des)construção europeia pode ser passível de crime são formas dissimuladas de instalar ditaduras conservadoras sob o aspeto de alguma democracia.

Todos os dias somos vítimas destas medidas austeritárias e autoritárias e é por isso que faz sentido falar agora da moção de censura grega. Não é uma moção à António José Seguro que serve para fazer de conta que está contra o governo para ir de seguida fazer exatamente os mesmo sob a mesma política do medo, ninguém esperava também que Hollande expulsasse crianças de etnia cigana da França, esse grande socialista. Esta moção de censura foi apresentada dentro do parlamento mas com grande adesão popular cá fora. A estratégia de combate aos atuais governos austero-autoritários passa pelo trabalho dentro dos parlamentos exigindo mais democracia, a devolução dos direitos roubados depois da falência do Lehman Brothers em 2008, e passa também por essas forças parlamentares estarem apoiadas numa base popular de descontentamento que apoie as suas propostas dentro e fora do parlamento.

O parlamentarismo de esquerda tem de ser feito da base para o topo e acompanhando sempre a base e as suas necessidades, compreendendo as populações e grupos organizados em movimento e trabalhar com eles e para eles.

Agora mais do que nunca são precisas moções de censura nas "Grécias" desta Europa, moções de censura não só no parlamento, mas moções de censura populares, unindo esforços para lutar contra este regime e reconquistar direitos outra vez e lutar pelo desenvolvimento económico e pelo progresso social. Não nos deixemos ser engolidos pelas políticas do medo e é hora de sair à rua todos os dias e todos os dias denunciar estas políticas de reformulação do modelo social.

No sentido metafórico, é hora de limpar armas e recuperar as lutas. É hora de ganharmos as nossas vidas.

 

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