Dissensos. A Política como Dissentimento Versão para impressão
Quarta, 02 Abril 2014

o espectador emancipadoSó uma perspetiva de classe consegue desmontar as narrativas do científico e consensual porque é nela que conseguimos fazer as perguntas esquecidas: «De quem? Para quem?»

 

Artigo de Luís Monteiro

 

Aproveito este artigo para aprofundar uma matéria que já anteriormente discuti, numa recensão crítica, também aqui publicada, sobre a obra de Jacques Rancière «O Espectador Emancipado». A ideia de Política do dissentimento e política como dissentimento é a matéria. É matéria de sentido.

«A palavra consenso significa de facto bastante mais do que uma forma de governação ''moderna'' que dá prioridade à especialização, à arbitragem e à negociação entre os ''parceiros'' sociais ou entre os diferentes tipos de comunidades. O consenso significa o acordo entre sentido e sentido (...) sejam quais forem as nossas divergências de ideias e de aspirações, percebemos as mesmas coisas e damos-lhes a mesma significação. O contexto da globalização económica impõe esta imagem de um mundo homogéneo no qual o problema para cada coletividade nacional é adaptar-se a um certo estado de coisas relativamente ao qual não tem controlo, adaptando-lhe o mercado de trabalho e as suas formas de proteção social.» Rancière, Jacques.

E a crise é esse vazio. Porque não se fazem as perguntas. E as perguntas dividem-se nas respostas que recebem. Não há espaços vazios na política. Só os tenta criar quem deixou de ter proposta política para resolver os problemas e porque o debate dos diferentes interesses de classe é abafado com a ciência da finança, que se apresenta como o novo Deus. Deus não desapareceu, ele é o dinheiro (Agamben).

Só uma perspetiva de classe consegue desmontar as narrativas do científico e consensual porque é nela que conseguimos fazer as perguntas esquecidas: «De quem? Para quem?»

O Tratado Orçamental é a Austeridade Permanente. E ele só é pensado porque significa a igualdade entre sentido e sentido. Ou seja, porque é o equalizador de todas as diferenças de classe, retém nele próprio a ideia dos constrangimentos externos a que todos os Estados se têm de ajustar. Porque aqui falamos sempre de ajustamentos. E é por isso que quem defende que não existe na era da economia do FMI ajustamentos está a incorrer numa inverdade. Eles existem, mas não da forma como nos são apresentados. O ajustamento é feito para e a partir do sistema capitalista global, da das condições de trabalho, do nivelamento por baixo, do desmantelamento do Estado como estado social. Do social e para o social.

«Há efectivamente essa lógica consensual que tende a suprimir as próprias condições da dissensualidade política, a reduzir os sujeitos da política às partes da sociedade e os seus conflitos a problemas da alçada das especialidades e da negociação. Esta lógica não é uma força histórica irresistível e encontra de facto dissensos. É aplicada por Estados que pretendem fundamentá-las nas necessidades da mundialização.» Rancière, Jacques.

A aproximação dos sistemas políticos e económicos dos EUA e da China, onde a Europa é ensaio para economia de mercado livre com laivos de autoritarismo de protecionismo das oligarquias várias é o diamante no céu, que reflete o brilho de todas as suas faces para diferentes espaços. Como que uma bola de espelhos.

Ora, hoje não basta apresentar alternativa, porque o consenso existente no debate político sobre a impossibilidade de dissensos intersecta qualquer possibilidade de criar esse pólo de agitação onde o uso da palavra é comunismo só por si.

Resgatar a Rés Pública e a Política do polvo do consenso é estar De Pé.

 

Referências:

1) Luís Monteiro - "Recensão crítica de "O Espectador Emancipado"A Comuna. 29 (janeiro-março 2013) 33-36.

 

 

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