O mundo do trabalho debaixo de fogo Versão para impressão
Terça, 09 Dezembro 2014

Woman factory worker files a machine part while piped music plays on loudspeakers. flickr.com.photos.lac-bacLutar e convergir mais contra a "inevitabilidade dos direitos não adquiridos"

 

Artigo de Sandra Almeida, Delegada sindical

 

O mundo do trabalho encontra-se mesmo debaixo de fogo. Assim é, na medida em que está a ser atacado de uma maneira particularmente feroz. Tudo cerca o mundo do trabalho. Cerca e se instala: aumento dos horários de trabalho, horas extraordinárias remuneradas indevidamente, precaridade, destruição de carreiras, cortes nos salários, pressão psicológica sobre os trabalhadores, despedimentos, aumento dos impostos, enfim, tudo no sentido de embaratecer o trabalho, de contribuir para a sua desvalorização, de empobrecer os trabalhadores e de transferir rendimento para o capital. Estamos perante a grande mercantilização do mundo laboral e a destruição dos direitos conquistados.

Mas o mundo do trabalho tem estado também a ser enquadrado por uma nova linguagem que, cada vez mais estruturada, vai justificando tudo o que encerra a mercantilização dando-lhe um cunho positivo, porque bom para os trabalhadores, para a entidade patronal e para a sociedade em geral. O novo mundo do trabalho apresenta-se, pois, como mais democrático, mais aberto, menos protegido, mais voltado para os grandes desafios do presente/futuro e mais apto para a concorrência. Assim, sim, encontram-se criadas as condições para a redução do desemprego e para facilitar a entrada dos jovens no mercado de trabalho, não estando tudo isto, isento de dificuldades. Mas o caminho é mesmo este.

Neste novo contexto, a concertação social é o meio, por excelência, para a verificação de acordos entre os parceiros. Se todos tiverem boa vontade, então sim, tudo correrá pelo melhor, pois todos darão os contributos devidos para que o Governo leve a bom porto as suas políticas. Pena é a CGTP contribuir sempre para que a festa não seja completa e para que a ideia da superação da luta de classes seja uma realidade plena. Neste sentido, há sempre a outra central sindical que garante a "superação" desta luta (alguma, enfim), devido à sua capacidade para negociar e chegar a acordos.

Neste novo mundo – que se deseja tão diferente daquele existente no passado – os sindicatos devem, evidentemente, adotar novas posições. Mais modernas, mais consentâneas com a nova realidade; a europa e o mundo mudaram e isto tem de ser compreendido. Porque insistem os sindicatos, então, em manter a sua rigidez ideológica? Claro que há sindicatos, ou melhor, uma central sindical, que é especialmente contrariadora, monolítica, incapaz de evoluir. Importa por isso tudo fazer para que a sua força seja modificada, para que o seu poder não esteja sempre a ver-se nas ruas e em lutas demasiado frequentes. Importa ir até mais longe, atomizando os trabalhadores e as relações laborais, dificultando a sindicalização e a participação em iniciativas sindicais. Esta é, pois, mais uma vertente que, no mundo do trabalho importa combater. "Enfraquecer" é a palavra de ordem.

Face a este mundo novo, a esta realidade que nos querem impor, o que fazer? Como resistir? Com quem contar? Como confrontar uma ideologia que pretende arrasar conquistas entendendo-as como privilégios, supérfluas e limitadoras à criação de emprego? A luta é a resposta. Sim, a continuação da luta quer a nível geral quer a nível setorial. A unidade, a convergência, a não desmoralização e não desmobilização do mundo sindical e dos trabalhadores é essencial. Os tempos não estão fáceis, não estão, mas esmorecer não é o caminho. Pelo contrário! Não esquecendo todas as pressões- com chantagem e instalação do medo - que os trabalhadores sofrem para não lutarem ou para desistirem da lutar, o mundo sindical tem de continuar firme, não deixar de informar, de alertar e de combater. Mais, deve fazê-lo da forma mais aberta possível, ou seja, não se fechando nem se pretendendo substituir aos movimentos e associações que estão igualmente na luta e que, por isso, também vão para a rua.

Face ao exposto, há uma máxima que importa reter: neste "novo mundo" imposto, com a "novilíngua" cada vez mais estruturada e invasiva, a convergência na/da luta é essencial. E é essencial não só a nível sindical mas também entre sindicatos e outros movimentos sociais pela importância que os mesmos têm para todos os seus associados. Cada um com a sua história mas todos pela força toda, numa luta que se pretende cada vez mais abrangente.

Sandra Almeida, Delegada sindical

imagem: "Woman factory worker files a machine part while piped music plays on loudspeakers". flickr.com.photos.lac-bac.