O resgate de 78 mil milhões e o silêncio |
Quarta, 04 Maio 2011 | |||
Nas declarações dadas pelo governo ontem [03maio2011] à noite, o mais importante foi dito por Teixeira dos Santos, que esteve calado o tempo todo. Artigo de Bruno Góis
Os pavões davam a banda sonora, Teixeira dos Santos fazia de bibelô e Sócrates dizia que “o Governo conseguiu um bom acordo”, “um acordo que defende Portugal”. Mas que Portugal é que defende? O Portugal com que sonham os banqueiros que encomendaram o FMI e o obtiveram ao ritmo de fast-food? Ou um Portugal empenhado em ser mais livre, mais justo e mais fraterno – como diz a Constituição? Sócrates responde claramente a esta pergunta, afirmando: “As medidas são essencialmente as do PEC4”.
O Governo do PS em coligação de facto com o PSD e com a cumplicidade do CDS, trouxe o FMI em prestações chamadas PEC 1, 2 3 (este último é o próprio orçamento). Recebeu uma censura da esquerda parlamentar mas segurou-se na cumplicidade da direita, anunciando, logo no dia seguinte, o PEC4. Recebeu a censura nas ruas do 12 de Março, mas manteve-se firme na arrogância austeritária. Recebeu a censura dos protestos e greves em vários sectores, mas continuou como se nada fosse. Finalmente, num malabarismo oportunista, o Governo provocou a sua própria demissão, mas, não esqueçamos, o pretexto invocado, o chumbo do PEC4 pelo parlamento, era de facto um desejo popular manifestado nas referidas censuras da esquerda parlamentar, das lutas das trabalhadoras e dos trabalhadores, do povo nas ruas.
Agora, Sócrates vem cantar de galo, acompanhado de um coro de pavões e dos silêncios de Teixeira dos Santos. Aponta uma série de medidas que não fazem parte do acordo, diz que tais medidas são boatos, mas dá-lhes a importância de as referir uma a uma. Diz que este acordo vai chegar e não serão necessárias mais medidas. Mas qual acordo? A parte mais importante foi dita pelo silêncio de Teixeira dos Santos, ou seja, ficou por dizer. E isso de dizer que o acordo é o PEC4, aprofundado nalguns aspectos e mais algumas medidas que não estão no PEC4 não é novidade nenhuma e apenas diz o que já se sabia: o PEC4 é hoje, como já era quando anunciado e rejeitado, uma dose da receita do FMI.
PEC4 aditivado e reforçado por medidas ocultas pode ser boa notícia para os banqueiros que encomendaram o FMI e vão receber diretamente mais de 15% dos 78 mil milhoes de euros, mas não para pensionistas, trabalhadoras, desemprecários, estudantes, gerações a quem roubam o presente e o futuro, gerações que pagarão com juros o saque dos bancos e dos patrões... a menos que se mude o futuro, a 5 de junho.
|
A Comuna 33 e 34
A Comuna 34 (II semestre 2015) "Luta social e crise política no Brasil" | Editorial | ISSUU | PDF
A Comuna 33 (I semestre 2015) "Feminismo em Ação" | ISSUU | PDF | Revistas anteriores
Karl Marx