Américo Amorim – A fase alucinogénica do Capitalismo Versão para impressão
Terça, 30 Agosto 2011

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Em recentes declarações ao Jornal de Negócios, Américo Amorim, o homem mais rico de Portugal e o

200º mais rico do mundo, afirmou não se considerar rico, acrescentando ainda que é apenas mais um assalariado. Posto isto e porque o marxismo faz-se também de actualidade, compete-nos a nós aprofundar a discussão de algo, que pode parecer aos olhos de muita gente, um pormenor superficial, mas que no fundo acaba por ser um importante objecto de estudo da mentalidade capitalista.

Américo Amorim não apresenta sinais de demência clínica, e como tal responde em plena consciência. Se assim é, existem duas hipóteses que justificam a afirmação do rei da Cortiça – ou de facto ele acredita que não constitui aquilo que popularmente designamos por um rico, ou fê-lo como uma tentativa frustrada de aproximação a todos aqueles que sofrem com esta crise.
Descartando esta última hipótese por razões óbvias e pela aproximação ao ridículo que apresenta, resta-nos analisar a atitude de Amorim, pressupondo que este realmente não se vê como um milionário.

O capitalismo sempre foi um sistema económico extremamente complexo, cria a ilusão para ganhar adesão popular, alimenta a inevitabilidade da luta de classes, e defende a classe dominante até ao último momento. No meio da construção ideológica desta corrente económica, o capitalista acaba por ser o próprio capitalismo, ele envolve-se a cem por cento porque essa é a única forma de alimentar o motor capitalista, o lucro.

No entanto Américo Amorim não é um capitalista qualquer, em território português ele é o capitalista, ele é o representante máximo do grande capital e actualmente encontra-se num patamar no mínimo peculiar daquilo que significa ser capitalista hoje. Para um homem que comporta um património de milhares de milhões de euros, que todos os anos vê largas somas a ser acumuladas a esse montante, o lucro é o motor de toda a sua vida.

Numa situação extrema como esta será possível chegar à real noção do limite entre aquilo que é a pobreza e aquilo que é a riqueza?

Com o único projecto de ganhar mais, em que as contas já não se fazem às dezenas nem às centenas, o limite entre o que é pobre e o que é rico não existe, e como tal Américo Amorim nunca poderia ser um rico já que ele se analisa a si próprio e ao mundo através da janela capitalista. Esta janela impede a noção ideológica daquilo que significa ser rico, porque para o capitalista o capital não pode ter limites, limitar o capital, é atentar contra si próprio.

A segunda parte da afirmação de Amorim, onde o mesmo evoca a sua condição laboral como justificação crucial da sua pobreza, permite-nos também uma interessante reflexão. Amorim não é rico porque trabalha, logo, e utilizando apenas a lógica, nenhum trabalhador conseguirá chegar a esse patamar tão prezado pelos apoiantes do capitalismo, a riqueza. E aqui reside uma das inúmeras falácias deste sistema, o capitalismo não é para todos, aliás não é para quase ninguém.

E chegamos a este estado avançado de uma doença económica que paira sobre o mundo, onde as alucinações atacam todos aqueles que se vêm rodeados pelos tentáculos do grande capital.

Entretanto os comuns mortais continuarão a debater estes devaneios de loucura, e a lutar contra uma praga que incrivelmente continua a sobreviver…

André Moreira

 

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