Marx contra a censura |
Quinta, 03 Maio 2012 | |||
Também Marx foi um jornalista, nunca nos podemos esquecer disso. Após concluir o seu doutoramento em filosofia e tendo-lhe sido fechadas as portas da academia, Marx inicia a sua carreira no jornalismo e torna-se redator-chefe d' A Gazeta Renana em 1842. O jornal será fechado após publicar uma série de críticas ao governo da Prússia, em 1843, quando a burguesia alemã, até então apoiante desse órgão de comunicação ligado à democracia radical, mudou de campo para conciliar com o regime vigente. Essa experiência foi uma importante aprendizagem para Marx e também teve papel na digressão que iniciou pela geografia, pelo pensamento e na luta política. Anos mais tarde, também a Nova Gazeta Renana, diário publicado por Marx em Colónia entre 1 de junho de 1848 e 19 de maio de 1849, deixará de ser publicada na sequência da expulsão de Marx do páis e da ameaça de prisão e extradição dos demais membros do jornal. A edição de 19 de maio ficará conhecida o a edição vermelha por ter sido impressa nessa côr, em protesto. Além destes episódios, importa referir que na obra de Marx devem ser considerados importantes artigos de jornalismo político que fará mais tarde, nomeadamente para o New York Daily Tribune. Recordemos Marx, na juventude, falando sobre o potencial da imprensa: "A função da imprensa é ser o cão-de-guarda, o denunciador incansável dos opressores, o olho omnipresente e a boca omnipresente do espírito do povo que guarda com ciúme sua liberdade". A liberdade de imprensa e de opinião são imprescindíveis à democracia. Assumimos essas conquistas como garantidas porém o poder governamental e dos grandes grupos económicos cerca em grande medida o potencial da liberdade de imprensa. Parte desse problema são limitações que o capitalismo impõe à democracia, mas há todo um campo para resistência e para avanço dessa liberdade. Apesar de tudo, não foi há muito tempo. Foi na noite de 2 de fevereiro de 2012 que saiu este comunicado direção da RDP aos seus jornalistas: “Tendo em conta os últimos acontecimentos relativos ao programa Este Tempo e todos os episódios que se seguiram à sua anulação, a direcção de informação da rádio pediu ao final da manhã a sua demissão, que foi aceite pelo conselho de administração”. Foi uma atitude de protesto perante a censura. Não nos podemos resignar, não se pode fingir que nada se passou. Passa-se que esse episódio de há meses nao é apenas um episódio é um sintoma. A pressão do momento é a da vaga conservadora e reaccionária que hoje, como sempre, faz caminho no poder tecnocrata e tecnocratizante. Devemos ficar vigilantes e não permitir que nenhuma censura passe em branco. Bruno Góis
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