Uma direita como nunca tivemos em democracia mas sabemos bem onde a podemos encontrar nos arquivos da História do séc.XX. E, exactamente por isso é que me parece pouco proveitoso que gastemos momentos deste período ímpar das nossas vidas para dizermos que o Governo é burro e que não percebe nada do que está a fazer.
Por já termos conhecimento do que esta direita conservadora foi capaz de fazer no passado é que não devíamos hoje ter dúvidas de que eles sabem muito bem o que estão a fazer: é uma vingança sobre o 25 de Abril, uma reposição do factor salário para o factor capital, o ensaio da maior mentira sobre o peso do Estado e das falcatruas da banca privada no sistema financeiro capitalista.
Vêm os ideólogos produtores de senso comum dizer que vivemos acima das possibilidades, que gastamos de mais, que é insuportável para as contas da economia a forma como nos comportávamos diariamente. Ora, o momento ímpar que esta Manifestação do dia 15 de Setembro protagonizou veio reverter toda esta lógica da batata.
Não, não vivemos acima das nossas possibilidades, vivemos abaixo das nossas possibilidades durante estes anos todos (se é que podemos chamar possibilidade a salários mínimos como os nossos, ou reformas abaixo dos 200€, desemprego sem subsídio ou propinas de 1000€ na faculdade); não, não gastámos de mais, eles é que gastaram de mais e vêm agora obrigar-nos a pagar a factura deles mas sim, foi insuportável a forma como nos comportámos nos últimos anos e isso deixou que os donos de Portugal destruíssem a economia. Conseguiram vender aos seus amigos sectores estratégicos do Estado, conseguiram enganar a maioria dos portugueses dizendo que a crise é uma crise da dívida pública e não uma crise profunda do sistema capitalista mundial, da sua especulação e da ganância do lucro.
No entanto, o governo eleito tremeu mas a força da direita europeia pensa já na imposição de tecnocratas aquando da substituição de quadros do executivo. É esse o caminho que se começa a trilhar na opinião pública através daqueles, que há um ano atrás, eram o staff deste governo: são eles Marcelo Rebelo de Sousa, que vem agora dizer que Passos Coelho ficou entalado com a medida da TSU, Manuela Ferreira Leite, uma das caras de apoio da candidatura do PSD nas últimas eleições, diz agora que é um acto de responsabilidade votar contra o Orçamento de Estado. Mas há uma coisa que os une, a defesa do regime de actuação da direita na Europa, quando dizem que esta até foi uma boa semana para a Europa quando um partido «pró-europeu» ganhou as eleições na Holanda e quando o BCE diz que vai comprar dívida pública dos Estados em dificuldades.
O milhão que ontem saiu à rua tem agora a responsabilidade política de não deixar que o Governo caia para ser trocado por um qualquer tecnocrata, como aconteceu na Grécia e na Itália. Tem a capacidade de criar uma alternativa à austeridade, ao FMI e a esta Troika de «desviadores profissionais de dinheiro dos constribuintes para a grande finança».

As manifestações que ontem [15 de Setembro] fizeram estremecer o governo, conseguiram outra grande conquista: transformar o significado filológico do termo Troika. Hoje já é sinónimo de palavrão e é por isso que dizemos: PASSOS E O TEU GOVERNO, IDE PRÁ TROIKA QUE VOS PARIU!

Luís Monteiro

Foto de Paulete Matos  Lisboa, 15 de Setembro