Um erro de nome: empreendedorismo Versão para impressão
Quarta, 29 Maio 2013

miguelmiguelEstá hoje em voga a senda do empreendedorismo e há até quem diga que se um estudante não consegue fazer 100 euros por mês, para pagar os seus estudos, a coisa está má. Sim, a coisa está má, e a ideia que o Governo e as empresas tentam incutir nas mentes das pessoas é a de que o empreendedorismo é a solução para os problemas do país.

Artigo de Diogo Barbosa

Está hoje em voga a senda do empreendedorismo e há até quem diga que se um estudante não consegue fazer 100 euros por mês, para pagar os seus estudos, a coisa está má. Sim, a coisa está má, e a ideia que o Governo e as empresas tentam incutir nas mentes das pessoas é a de que o empreendedorismo é a solução para os problemas do país.

Ao tentar pôr de lado a ideia do self-made-men a nova ideia é a de que toda e qualquer pessoa, com uma boa ideia, é logo intitulada de empreendedora e de que todos os seus problemas estão resolvidos dai para a frente.

Não poderia existir ideia mais errada, na vida da população em geral e no caso do ensino superior o caso é muito grave para a maioria dos estudantes. O problema que se coloca é que as milhares de pessoas, que abandonaram o ensino superior nos últimos dois anos, fizeram-no por uma razão muito simples, não tinham forma de pagar os seus estudos.

Vemos programas e reportagens muito bonitas de pessoas, que não acabaram os seus estudos, e têm um pequeno projeto ou negócio que faz das suas vidas uma maravilha, e a realidade dos milhares que abandonam por não terem dinheiro e voltam para as suas terras e ficam com a sua juventude condenada por não terem emprego nem possibilidade de estudar?

Em primeiro lugar, e as culpas têm de ser atribuídas e alguém se deve responsabilizar, o Governo português tem feito das bolsas de estudo uma miragem para todos/as os/as estudantes, de alteração em alteração aos critérios de atribuição são cada vez mais as pessoas que ficam de fora do regime de bolsas, em condições de não capacidade financeira para se poderem manter a estudar.

Voltando ao empreendedorismo o erro mais comum é que quem pensa, que esta nova salvação para o país, a vê num carrinho de pipocas que pode dar para fazer 100 euros por mês para pagar as propinas, esquece-se das outras necessidades básicas que todo e qualquer estudante tem para frequentar o ensino superior.

Numa pequena estimativa, um estudante que seja bastante poupado gasta em média 400 euros, e desta conta apenas consta o valor da renda, da comida e das propinas, é preciso ter em conta que também são necessários livros, cadernos, portanto todo o material necessário para uma vida académica com sucesso.

Nem vale de nada fazer a conta que poderá levar a números que os próprios vendedores do empreendedorismo não sabem serem necessários para uma pessoa frequentar o ensino superior. Tudo isto vem no sentido de que o problema não são as pessoas que não têm grandes ideias e que não procuram trabalho, as pessoas estudam para poder ter um futuro melhor e um trabalho que lhes permita uma melhoria da condição de vida. Mas a solução deixada por este Governo e pelos seus embaixadores por cá é a de que precisamos de bater punho, sim bateremos punho na luta pela atribuição de bolsas, na luta pelo fim das propinas, pela melhoria dos serviços das cantinas e por todas as causas que representem a qualidade do ensino superior em Portugal.

Se o Governo não tem essas condições para o fazer que se demita que há de certeza uma Esquerda grande que fará um trabalho muito melhor.

 

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