Putin ergue a fasquia na crise imperialista da Crimeia Versão para impressão
Sexta, 04 Abril 2014

vladimirputinOs que clamam que a queda de Yanukovych foi um "golpe fascista" papagueiam a propaganda de Moscovo. Ele caiu porque o sector da oligarquia que antes o tinha apoiado lhe retirou o apoio.

Opinião de Alex Callinicos

 O controlo militar da Rússia sobre a Crimeia colocou a Ucrânia à beira da guerra. Esta crise representa a chegada de três conflitos distintos.

Primeiramente há a luta que tem existido há mais de uma década entre o grupo de oligarcas corruptos e violentos que têm dominado a Ucrânia desde a independência em 1991.

Em segundo lugar, tem existido um movimento popular genuíno contra o presidente agora exilado, Viktor Yanukovych. Este movimento expressou a sua raiva pela corrupção de toda a elite política na Ucrânia.

Infelizmente, este movimento alimenta ilusões na União Europeia. Além do mais, graças à histórica fraqueza da esquerda na Ucrânia, a extrema-direita tem desempenhado um papel significativo na ocupação "Euromaidan" em Kiev.

No entanto, os que clamam que a queda de Yanukovych foi um "golpe fascista" papagueiam a propaganda de Moscovo. Ele caiu porque o sector da oligarquia que antes o tinha apoiado lhe retirou o apoio.

Em terceiro lugar e agora mais importante, é a rivalidade inter-imperialista entre a Rússia e o Ocidente sobre a Ucrânia. Neste conflito, a Ucrânia significa muito mais para a Rússia do que para os Estados Unidos ou para a União Europeia.

Uma Ucrânia que fosse completamente integrada na UE e na NATO seria um passo para o pior pesadelo de Moscovo de ficar cercado pelo Ocidente. O Presidente Vladimir Putin fez guerra com a Georgia em 2008 para impedir que este pesadelo se concretizasse.

Tomar a Crimeia significa um movimento contrário à inclinação da Ucrânia para ocidente, em resultado da queda de Yanukovych. A península é de importância estratégica crucial para Moscovo. Ela tem servido como base da frota do Mar Negro da Rússia desde o século XVIII.

Putin reclama estar a agir em defesa dos falantes russos da Ucrânia, uma maioria na Crimeia e espalhados no sul e no leste da Ucrânia. Mas para além de um voto parlamentar em Kiev para retirar o russo do seu estatuto de língua oficial, não há provas de qualquer ameaça real aos falantes russos.

Poder

Putin está a envolver-se num jogo de poder inter-imperialista. Está a apostar na fraqueza dos seus rivais. Provavelmente tem razão neste aspecto. A União Europeia gaba-se de ser uma "potência normativa" e lança o seu peso para as suas periferias orientais e meridionais. Mas crises como esta sublinham a dependência da UE do potencial militar dos Estados Unidos.

E os olhos americanos estão virados para o Pacífico. Quando Barack Obama retrocedeu na sua ameaça de atacar com mísseis o regime sírio de Bashar al-Assad, no último outono, sublinhou que os EUA não têm apetite por mais nenhumas guerras terrestres na Euro Ásia.

A sua administração está a deslocar os seus activos militares para a Ásia Oriental para fazer face ao maior desafio representado pela China. O secretário da Defesa Chuck Hagel acaba de anunciar planos para cortar no exército americano de 566,000 para 440-450,000.

Claro que Washington está sem dúvida desejosa de ver a Ucrânia integrada no sistema da aliança ocidental. Mas a ideia posta a circular por alguns na esquerda que por detrás da crise na Ucrânia está uma motivação para a guerra com a Rússia por parte dos neoconservadores americanos é o maior dos disparates.

O secretário de Estado americano John Kerry ameaça Putin com sanções económicas. Mas este último deve lembrar-se que também foram ameaçados em 2008 por causa da Georgia, mas que tal nunca aconteceu. Então como agora, a carta mais forte da Rússia é a dependência da UE em relação à Rússia em 40% das importações de gás natural.

O maior perigo para Putin vem dele próprio. Ele pode dar-se ares de todo poderoso tentando deter efectivo controlo sobre a Crimeia na divisão da Ucrânia. A ocupação da parte oriental do país pode tornar-se no Iraque da Rússia. Na Ucrânia ocidental há grandes tradições nacionalistas alimentadas por recordações das sangrentas lutas de independência durante as duas guerras mundiais. Estas podem ser reactivadas agora.

Claro que os socialistas no ocidente devem opor-se a qualquer intervenção militar dos EUA ou da NATO na Ucrânia. Mas a crise lembra-nos que o imperialismo não pode ser reduzido ao domínio americano. É um sistema de competição económica e geopolítica entre as potências capitalistas dominantes.

Em vez de seguir qualquer destas potências, temos de lutar contra todo este sistema. Isto quer dizer opormo-nos à intervenção russa na Ucrânia. Nunca a palavra de ordem "Nem Washington nem Moscovo, Socialismo Internacional" foi mais relevante.

Alex Callinicos

 ver também: POLÉMICA UCRÂNIA

 

Tradução de Almerinda Bento para acomuna.net 

Artigo publicado em Socialist Worker

 

 

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