Catarina Eufémia Versão para impressão
Terça, 13 Julho 2010
A 19 de Maio de 1954 Catarina Eufémia é brutalmente assassinada pelo tenente da GNR Carrajola, na Herdade do Olival em Baleizão, num retrato do que era a repressão fascista em Portugal.
Artigo de Diogo Barbosa

Nesse mesmo dia os assalariados agrícolas que regressavam do fim do seu período de desemprego sazonal haviam recusado trabalhar reclamando para com os proprietários mais direitos, como o de receber um salário mais justo pelo se trabalho na ceifa. Os proprietários agrícolas em reunião decidem não aceder aos pedidos dos ceifeiros que acabam por entrar em greve contra a prepotência de quem os explorava. Como forma de dar a volta à greve protagonizada pelos ceifeiros, os proprietários decidem contratar ceifeiros de fora para estes realizarem o trabalho dos grevistas. Estes ceifeiros de fora quando chegam são abordados pelos ceifeiros em greve que acabam por convencer quem vem de fora a juntar-se ao seu protesto. Ai entra a GNR que reprime os ceifeiros de fora e os obriga a trabalhar as terras dos proprietários. Nessa altura surge um grupo de mulheres grevistas que vão falar com os ceifeiros de fora para estes pararem de trabalhar e se juntarem novamente ao protesto e à greve dos ceifeiros contra a exploração. Este grupo de mulheres era liderado por Catarina Eufémia que foi brutalmente assassinada com três disparos de metralhadora pelo tenente Carrajola. A partir deste momento Catarina passa a ser a bandeira dos ceifeiros para a sua luta contra os exploradores agrícolas.

Esta greve, que tem um acontecimento trágico como a morte de Catarina, não foi mais que uma forma dos trabalhadores lutarem pelos seus direitos contra o capital que dominava o proletariado que tinha como forma de subsistência única a venda do seu trabalho. Estes ceifeiros, camponeses apenas exigiam um valor justo pelo seu trabalho, um valor que lhes permitisse subsistir de forma digna, proletários estes que não possuíam terras e viam-se escravizados pela prepotência dos proprietários que os exploravam e se serviram do regime em Portugal para os obrigarem a trabalhar, regime esse que ditou a morte de Catarina nesse dia 19 de Maio de 1954.

Posto isto voltam os protestos do Baleizão em Agosto de 1955 onde os assalariados agrícolas reclamando pelo direito ao emprego apedrejam o posto da guarda local. Em Dezembro desse mesmo ano alguns trabalhadores das obras das estradas são despedidos e o protesto faz-se novamente sentir pelos operários que conseguem fazer com que alguns dos seus companheiros fossem libertados pois haviam sido detidos para “interrogatórios”.  Posteriormente em 1958 o protesto marca de novo a agenda dos trabalhadores que protestam contra o desemprego e de certa forma também contra o regime em frente ao posto da GNR. Em Janeiro de 1959 o protesto volta ás ruas novamente com reivindicações contra o desemprego e em Março desse mesmo ano são as mulheres quem protesta paralisando o seu serviço durante uma semana reunindo assinaturas e exigindo um salário mínimo.

Estes foram anos de revolta desta sociedade de proletários de Baleizão que foram sucessivamente lutando pelos seus direitos contra a exploração dos proprietários que aliados ao regime e sendo suportados por este nunca deram aos seus trabalhadores o que eles mereciam pelo seu trabalho. Como dizia Karl Marx “ Os indivíduos isolados formam uma classe pelo facto de terem que encetar uma luta contra outra classe”. Ora esta premissa marxista é uma forma de perceber que esta luta em especifico desta comunidade contra a classe dos proprietários é uma luta que não pode ser realizada de forma isolada na premissa do cada um por si mas sim todos juntos criando uma classe em que a sua força consiga fazer frente à supremacia daqueles que dias após dia os subjugam. 

E como diz Marx também “Só o proletariado é uma classe verdadeiramente revolucionária”. O exemplo desta população que luta contra a opressão e contra o desemprego é o exemplo da verdade marxista, de que o proletariado unido é a única forma de revolução contra a sociedade capitalista e imperialista que envolve os dias de hoje.

Catarina, mártir do ideal de luta e revolução, serviu de esperança para os que fizeram a luta nos anos 50. Que sirva de esperança para a luta que todos e todas teremos de enfrentar contra as novas formas de capitalismo e imperialismo.

 

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