O Deus-economista que não percebia nada de aplicações financeiras |
Terça, 18 Janeiro 2011 | |||
Era uma vez um homem-Deus que era um grande economista e que estava acima da política mas que, em determinadas situações, também era um economista que não percebia nada de aplicações financeiras. Quem nasceu duas vezes sabe do que estou a falar... É sintomático dos partidos do bloco central fazerem crer que a sua competência técnica está acima da dos demais partidos, estes terão quadros de grandes conhecimentos técnicos ao passo que os outros partidos (os de esquerda, claro) terão ideólogos sem competência para gerir um país. A narrativa não é inocente, precisamente porque tira a decisão do campo da democracia, do debate e da ideologia assumida que está presente e é salutar que assim o seja. Entendo a ideologia como um conceito elástico (se esticarmos muito ela rompe) que abrange um conjunto de valores e ideias suficientemente latos e comuns para se poder exercer uma acção política concertada. Não entendo, de todo, como sendo a apologia da ortodoxia ou a disciplinação verticalizada do pensamento. Mas é precisamente essa a confusão que se tenta lançar, os partidos de esquerda, ideológicos, não conseguirão responder aos problemas do país porque estarão presos na redoma de uma ideologia obsoleta e não serão capazes de se adaptar à realidade. O economista que vos falo leva essa narrativa a um expoente máximo, ele levita sobre tudo isto, até entrar em diálogo com a classe política pode conspurcar a sua aura celestial. É certo que há quem aponte para Belém (Cisjordânia) na procura de esperança, em Portugal apontarão para Boliqueime equivocados, pois sua santidade parece que habita e convive com os reis magos da finança em condomínios de luxo em Albufeira. Ninguém sabe ao certo o local exacto onde terá estado a manjedoura com o menino Jesus, também a conservatória de Albufeira não sabe da existência do condomínio de sua santidade. Coincidência dirão uns, milagre digo eu, mais uma prova da divindade de quem levita acima da classe política e habita num nível bastante acima dos pobres. Mas não quero ser injusto, este divino economista e economista divino também tem características terrenas, pequenas imperfeições que o aproximam dos comuns mortais. Uma dessas características é a dificuldade em responder a perguntas e em compreender a complexidade das aplicações financeiras. Parece que, assim como quem transforma pão e vinho em carne e sangue, as acções do nosso protagonista tiveram uma valorização de 140% sem se quer estarem no mercado bolsista, mercado esse que também não costuma fazer tamanhas façanhas. Muitos pensariam que é aqui que se revelaria a transcendência do material para o imaterial, mas, pelo contrário, foi aqui que se revelaram os traços de humanidade. O economista (nesta frase a sua divindade está em baixa) explicou que ele e sua mulher não falavam muito com os bancos, sendo que lhe terão dito para assinar um papel que ele, inconscientemente, assinou sabendo apenas que esses bancos depois reconduziriam esse dinheiro para aplicações financeiras que transcendiam a sua compreensão. De facto, acabou por haver uma transcendência mas foi a compreensão que ficou para trás. Se por esta altura abalei a crença neste homem-Deus, então permitam-me que a recupere. Será coincidência que sempre que os bancos fazem algo que transcende a nossa compreensão seja para nos tirar dinheiro e que no caso do nosso protagonista isso tenha sido feito para dar 2,4 vezes mais dinheiro? Tenho dito, Ámen. João Dias
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