Uma maioria, um Governo, um presidente Versão para impressão
Terça, 25 Janeiro 2011

cavacosacarneiro «Unamo-nos e demos cabo do Mundo»

Na noite das eleições, quando falou, Sócrates, numa (a primeira!) frase disse tudo: «Ganhou a estabilidade».
A estabilidade para cumprir os PECs  doa a quem doer e, se necessário, aceite o FMI.


Artigo de Mário Tomé

 

Uma articulação entre uma maioria (PS, PSD, CDS), um governo (Sócrates) um presidente (Cavaco). A maioria que vem detrás e vai dispensando Passos Coelho. Sá Carneiro vela por nós.

A derrota de Cavaco era central para desfeitear a estratégia política do neoliberalçismo para Portugal. E Cavaco, há cinco anos, quando foi eleito, sabia do que falava quando assinalou a decisão de cooperação estratégica com Sócrates.

O objectivo a alcançar pelo Bloco de Esquerda, ao apoiar decididamente Manuel Alegre, nesta batalha eleitoral, foi o de obrigar Cavaco à segunda volta para, aí, de forma segura e quase certa, ser derrotado.

Este foi essencialmente o objectivo expresso por todos os candidatos.

Cavaco ganhou. Passou com 53% dos votos validamente expressos. As outras candidaturas no seu conjunto, e era disso que se tratava, não conseguiram cativar os eleitores para que Cavaco não conseguisse a maioria absoluta.

Como ficou provado na prática, como mostram os resultados, a candidatura com condições objectivas para defrontar Cavaco, era  a candidatura de Manuel Alegre.

Estes são os dados inquestionáveis, independentemente de quaisquer juízos políticos.

A derrota da esquerda contra Cavaco, não deve esconder que o Bloco se afirmou com a sua combatividade, e uma política ampla mas radical, que ganhou apoio indiscutivelmente em todas as acções de massas da campanha.

Portanto o Bloco fez bem, vistos os resultados, em apoiar Alegre.


AGORA A POLÍTICA:


O Bloco não deveria ter batalhado por um outro candidato mais próximo do seu programa?

O Bloco, com apoio praticamente unânime nas suas fileiras, lutou por construir uma ponte, na sequência da grande vitória pela legalização do aborto, com o sector do PS mais desprendido do poder, das suas prebendas, dos seus tachos e, portanto, da direcção socrática e da governação neoliberal. E essa ponte levou a uma prática de acção conjunta em muitas ocasiões e debates plenos de participação. E levou a um encontro forte, com base em princípios inequívocos de defesa da Constituição, nomeadamente na defesa dos trabalhadores como a parte mais fraca e desprotegida no próprio Estado de Direito. Nenhum outro candidato poderia dar garantias como Manuel Alegre .

A apresentação de ou o apoio a outro candidato nada teria a ver com a táctica geral traçada pelo Bloco em Convenção. Seria um candidato de propaganda que não contribuiria nem para conjurar forças e movimento contra Cavaco, o que ele representa e tem acertado com Sócrates, os PEC 1,2 e 3, nem para a afirmação do Bloco como força política capaz de, com uma perspectiva radical da transformação social, construir a maioria social para confrontar o «regime» e o «sistema» e gerar a alternativa popular aos mesmos.

O discurso de Fernando Nobre foi, antes de mais, uma contradição nos termos: contra o regime juntando as forças mais poderosas do regime. O único inimigo claro e declarado foram os partidos políticos, os deputados, os políticos em geral, mesmoa própria política como obstáculo à «cidadania»! Ou seja, um discurso, na sua essência, protofascista, sem ofensa. Os cidadãos e cidadãs que a ele se juntaram, porque «perderam a confiança» nos partidos e nas instituições democráticas, serão os primeiros a reconhecer que as instituições e os partidos são aquilo que a luta cidadã radical fará deles. E se a candidatura de Nobre,  congregou muitos cidadãos e cidadãs de grande mérito e centenas de milhar de eleitores, eles vão necessitar de uma argamassa mais forte e consistente para se manterem activos. O empenhamento contra os PEC’s , contra o FMI, contra a revisão constitucional. E essa luta vai ter de contar com a acção dos  partidos de esquerda e das instituições democráticas para um estado de direito forte.

Manuel Coelho representou muitos daqueles que, falando contra a corrupção e a prepotência não estão dispostos a intervir e muito menos a arriscar opinião e acção política compatível. Assim 35% dos votantes madeirenses apoiou-o no seu discurso contra Alberto João Jardim, mas nas legislativas e autárquicas permitem que AJJ, que Coelho atacou fortemente, continue a tripudiar sobre a sua passividade política.

Como Manuel Alegre sempre disse não seria por causa do candidato do PCP que a direita iria ganhar. Nós sabemos como a coerência e firmeza do PCP obrigaram Francisco Lopes a atacar Alegre praticamente no mesmo plano de Cavaco ou Nobre.

E não podemos deixar de lembrar o apoio, juntamente com o PRD, um partido formado à semelhança de Eanes e constituído por desiludidos da vida, à primeira volta a Salgado Zenha, só para liquidar a candidatura plena de pujança e dinâmica cidadã de Maria de Lurdes Pintasilgo. Claro que o PCP, que tem medo do movimento e ainda mais de se integrar nele, apresentou – como sempre – um candidato próprio. Foi Ângelo Veloso, um bom homem e um intelectual respeitável, que foi obrigado a fazer uma figura odiosa com os ataques quase desnorteados a Maria de Lurdes Pintasilgo, único objectivo da sua candidatura.
E também nos lembramos da perspicácia táctica do PCP e da sua coerência enfática, quando no Congresso imediatamente anterior a essas eleições, numa situação de avanço da direita,  proclamou a resolução definitiva de nunca votarem em Soares.

E como depois foram votar nele na segunda volta contra Freitas do Amaral para o que tiveram de organizar um Congresso à pressa para desdizer o que tão definitivamente tinha sido afirmado. E fizeram muito bem.

Mas inventaram os sapos na política e o olho tapado, numa afirmação de que a metáfora é a forma mais inteligente de ser sectário e oportunista .
Segundo alguns camaradas o importante seria marcar bem a posição anti-capitalista e nunca por nunca apoiar o candidato do governo. Mas que fazer quando o movimento mais amplo à esquerda se reconhecia em Alegre, quando foi e é com Alegre que se abrem perspectivas de abertura para alargar a base social, política e elitoral de resistência à investida desembestada do capital financeiro globalizado?

Parece retórica mas não é: foi o partido do governo que foi obrigado a apoiar o candidato que o Bloco já tinha apoiado.Sócrates não tinha nenhum candidato credível e não podia aparecer sem candidato.

Houve quem da nossa base votasse na «candidatura patriótica e de esquerda», só porque fala nos males, apresenta soluções óbvias, mas que é incapaz há trinta e seis anos de gerar movimento amplo e para além dos seus compagnons de route, quer entre os trabalhadores quer entre os intelectuais. Tendo mantido a ambiguidade suicida sobre a necessidade da luta pela UE e na UE como o palco mínimo das grandes transformações políticas e sociais do futuro.

Como não votar então num candidato que dá garantias pelo seu próprio percurso – no PS, sabemos todos – de ser um inquebrantável defensor dos direitos fundamentais da Constituição numa altura em que a ofensiva contra a democracia e os trabalhadores é tão brutal e violenta? Só porque ele, ao contrário de nós é do mesmo partido do primeiro ministro? E porque sente necessidade de falar de Sócrates como seu camarada e agradecer-lhe, noblesse oblige, o apoio semi -envenenado?

Há quem acuse o Bloco de não ter sido capaz de apresentar uma candidatura de esquerda (e« patriótica» ???– as políticas patrióticas acabaram para a esquerda. Não há burguesia patriótica com quem se faça uma aliança. Toda a burguesia é imperialista ou serventuária do imperialismo. Como dizia um camarada «uma pátria dos trabalhadores com a bandeira do capital»?)

E o Bloco deveria fazê-lo porque o capital está sob a pressão dos trabalhadores! Não será exactamente o contrário? A grande crise provocado pela voracidade do capital financeiro está a ser usada por esse mesmo capital financeiro para ganhar ainda mais do que antes e para obrigar os trabalhadores a pagar não só a crise mas os juros que eles impõem!

A luta desenvolve-se na Europa, é objectivamente internacionalista, não pela retórica mas sim pela luta concreta que interessa no imediato aos trabalhadores (com Alegre) para congregar forças para ir mais adiante-com ou sem Alegre!

A campanha de Alegre de há cinco anos foi mais «cidadã» e mais à esquerda que esta? Quem pode dizê-lo sem rubor?
O programa com que Alegre se apresentou foi o adequado? Permitia ao BE apoiá-lo sem reticências e sem fazer perigar a sua política de oposição ao governo e de afirmação como força alternativa de esquerda? A resposta só pode ser afirmativa.

A base eleitoral do BE, na sua grandíssima maioria entendeu o que estava em jogo. De tal modo que conseguiu superar as dificuldades criadas por uma tardia adesão de muitos quadros do PS  e, portanto, da sua massa de militantes e apoiantes ao trabalho.

A hesitação de quem age por grupismo de interesses, por obediência a caciques qualificados internamente, por quem está habituado a esperar ordens.
No actual quadro político, Manuel Alegre foi o candidato que respondeu à necessidade da mobilização cidadã da esquerda ampla, ou seja daqueles e daquelas que querem, e precisam de travar a ofensiva brutal do capital por razões ideológicas, por racionalidade política e, especialmente, por estarem a sofrer a razia da alcateia dos cavaquistas e dos boys cientificamente espalhados pelos nichos de controlo de poder fáctico e de paulatino e brilhante enriquecimento.


OS COUTEIROS


Perante os resultados eleitorais, os couteiros instalados na comunicação social dependente, cobardemente escondida atrás das pretensas independência e objectividade, para os seus órgãos não se definirem em relação aos candidatos, logo saltaram a lançar as explicações autorizadas e as projecções definitivas.
Alegre teria perdido desastrosamente porque foi apoiado por dois partidos opostos.  O reconhecimento da oposição do Bloco ao PS nesta circunstância (em que fomos acusados de capitulação face ao governo) já é uma vantagem para o Bloco. Mas a candidatura de Alegre teve o apoio do Bloco mal foi anunciada porque ela própria emanava dum movimento, ainda embrionário, é certo, mas já visível em muitas acções e iniciativas, para o qual tínhamos trabalhado em conjunto.

Foi portanto um apoio oportuno e natural. E o aparelho socrático do PS não tinha outra alternativa senão decretar o seu apoio a Alegre em condições e oportunidade que mostrassem bem o distanciamento que servia a estratégia de Sócrates.
Assim foi.

O BE depois desta vitória da estratégia Socrática/Cavaquista vai continuar a sua luta aguerrida e sem contemplações contra o neoliberalismo e por uma Europa de paz, democracia e solidariedade. Nela decerto se encontrará, uma vez mais, com Manuel Alegre em defesa da Constituição, da democracia, dos direitos económicos, sociais e culturais dos trabalhadores, da segurança social pública, do SNS e do ensino público.
E nesse encontro que não é restrito, vão estar muitos daqueles que se abstiveram ou votaram de forma diversa contra Cavaco.

Assim será

 

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