E agora? |
Quarta, 26 Janeiro 2011 | |||
O pós-presidências tem vindo a despertar vários debates, todos os analistas, comentadores e ilustres personagens da praça pública se debruçaram sobre elas. As teses são variadas, com corpo e conteúdo diferentes, encontram-se vencedores e vencidos para todos os gostos e feitios.
Artigo de Fabian Figueiredo
Muitos tentaram ver na candidatura de Manuel Alegre um espaço embrionário de uma futura coligação de poder. O nascimento de uma alternativa política de governo, onde coubessem o Partido Socialista e o Bloco de Esquerda. Afirmando-se assim que essa via saiu derrotada destas eleições. A candidatura presidencial é unipessoal, muito diferente das eleições legislativas, representa um projecto encabeçado por uma pessoa. No programa de Manuel Alegre pode caber muita coisa, agora o Partido Socialista por mais que se pinte, não cabe de todo. Não nos enganemos, as pedras basilares da militância anti-liberal do poeta foram contra o seu Partido. É dentro desse espaço criado por ele, em que se afirma como personagem incontornável da esquerda portuguesa. Daí ter provocado tanta incomodidade no PS. Vejam-se o artigo de opinião de Mário Soares no Diário de Notícias ("quando o PS resolveu apoiar o candidato que já tinha sido escolhido pelo Bloco de Esquerda, disse - e escrevi - que considerava isso um erro de Sócrates, grave, sobretudo, para o futuro do PS, visto que ia dividi-lo, como aconteceu"(1)), a entrevista de Silva Pereira ao Diário Económico (“o PS ou apoiava Alegre ou não tinha candidato. Foi a melhor opção possível para estas eleições presidenciais. Não houve sinais de disponibilidade de qualquer outra figura relevante”(2)) e o discurso de José Sócrates pós resultados presidenciais (“portugueses optaram pela estabilidade política”(3)). A candidatura de Manuel Alegre foi claramente ofensiva ao que é hoje o Partido Socialista. Pouco convinha à nomenklatura do PS que esta candidatura rompesse com a história e erguesse barricadas contra o desmantelamento do Estado Social e a perda de direitos, liberdades e garantias. É neste espaço que hoje se afirma a militância de esquerda, procurando-se impedir mais acumulação capitalista à custa dos serviços públicos, negando-se a reprodução da lumpen-burguesia e o pagamento da crise pelos trabalhadores. Uma plataforma de governo saída destas presidenciais juntaria a tese e a sua antítese, provocando uma síntese pulverizadora para a esquerda. Recuando a luta social e a mobilização anti-liberal em mais de uma década. Todas as pontes, esperanças e alternativas, que se têm cimentado ao longo destes anos, cairiam como um baralho de cartas. A falta de disponibilidade da esquerda - que não se apaixona pelos cantos de sereia do social-liberalismo - em participar nestes tangos, não se pauta pelo afirmar de velhos vícios sectários herdados do PREC, de um gosto pelo anti-poder ou de características subdesenvolvidas da própria esquerda portuguesa. Simplesmente a social-democracia, está embebedada há décadas pelo neoliberalismo, e a recente participação da esquerda progressista em governos mostra-nos que só o socialismo fica de ressaca. A alternativa de mudança, não passa pela reedição de saudosas frentes populares, esses tempos já se foram. Não se conseguiram inscrever no presente e no futuro por alguma razão, ficaram-se pelos livros de História, juntamente com inúmeras organizações que reivindicavam o socialismo. O futuro da esquerda, passa pela conquista da maioria social, agregando forças, federando todos que vêem no socialismo mais que um slogan oportuno, conquistando os que no PS se têm sentido órfãos . É isso que representa a criação do Bloco de Esquerda, foi isso que fizemos e continuaremos a fazer com Manuel Alegre. Do PS já nada esperamos, pelo PCP não ficamos à espera.
Referências Bibliográficas (1) (2) http://economico.sapo.pt/noticias/ps-ou-apoiava-alegre-ou-nao-tinha-candidato_109625.html (3)
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A Comuna 33 e 34
A Comuna 34 (II semestre 2015) "Luta social e crise política no Brasil" | Editorial | ISSUU | PDF
A Comuna 33 (I semestre 2015) "Feminismo em Ação" | ISSUU | PDF | Revistas anteriores
Karl Marx