A maionese e as desilusões das presidenciais Versão para impressão
Segunda, 31 Janeiro 2011

A noite da eleição presidencial e os dias seguintes produziram momentos interessantes. António Vitorino, que irradiava felicidade ao comentar os resultados, cedo reclamou com Vitalino Canas um debate no PS e na esquerda. José Lello culpou o BE e Alegre, e as suas atitudes anti-governo, pela derrota. Mas Lello não errou de todo "qualquer plataforma [PS+BE], como se viu, não existiu nem terá sequência".

Mas é de Paulo Pedroso que vem a análise mais curiosa "A maionese da candidatura de Alegre deslaçou e todos os seus ingredientes saem prejudicados. Ao contrário de outras alianças à esquerda bem mais difíceis no passado, esta revelou-se ruinosa".

Em primeiro lugar a candidatura de Alegre não era uma maionese porque o popular e natural azeite do BE não se mistura com ovos decisivamente contaminados de salmonelas. E nunca se misturou, como se queixam algumas iminências pardas do PS que acusam o BE de nunca ter calado as críticas ao governo durante a campanha.

Em segundo lugar o BE não sai prejudicado. O BE assumiu, nestas eleições, uma posição pela defesa dos serviços públicos e pelos direitos dos trabalhadores e essa é uma luta determinante contra a privatização do Estado em favor dos especuladores mafiosos e capitalistas neoliberais. O candidato apoiado pelo BE não ganhou as eleições, mas todos aqueles que sentem o coração à esquerda percebem a coerência da posição bloquista. E, às vezes, há derrotas no curto prazo que são vitórias futuras.

Em terceiro lugar, de facto, a esquerda não é como a direita. Os desencontros da esquerda devem deixar de ser lugares de queixume desiludido, eles são os inerentes à separação de águas quando a capitulação toma o lugar da decisão. O PS que já tinha colocado o socialismo na gaveta colocou agora a esquerda no lixo. Se dúvidas houvessem elas foram tiradas - logo no dia a seguir - pela sindicalista Ministra do Trabalho ao anunciar mais uma brutal traição à esquerda com o acordo patronal para a diminuição drástica dos valores das indemnizações por despedimento sem justa causa; de facto, assim nem é preciso rever a Constituição. Encontros destes já aconteceram, por exemplo na Itália, com o suicídio político que se conhece. Essa, sim, seria uma aliança ruinosa.

Outros cidadãos, ainda afectados por dogmatismos de vários timbres ou mais preocupados em fazer guerra ao BE do que em combater a direita, iludiam-se com candidaturas conjuntas com o PCP. O PCP marcou presença nestas eleições com uma candidatura de propaganda e defesa intra-muros . O seu objectivo não foi juntar forças à esquerda foi lutar contra aqueles que ganharam o apoio de centenas de milhares de pessoas e que lhes põem em causa o seu antigo papel de "donos da esquerda" – por isso fizeram do passado fim-de-semana o dos comícios anti-bloco.

A direita sai largamente vencedora deste escrutínio. A estabilidade, logo entendida por Sócrates como escolha dos eleitores, é reforçada. As medidas mais duras estão a caminho e a estabilidade do regime burguês vai ser mais precisa.

A direita, de facto, é diferente da esquerda. A direita entende-se na aplicação da ideologia neoliberal. PS, PSD e CDS, com variantes, estão juntos nas privatizações, na diminuição de salários, na defesa do privilégio e do roubo burguês...

Por fim, vamos ver o que acontece dentro do PS. A desilusão com o governo Sócrates ainda parece menor do que a ilusão com o PS, mas cada militante desse partido falará por si.

Victor Franco

 

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