No país dos faraós Versão para impressão
Terça, 01 Fevereiro 2011

O primeiro mês deste novo ano, e desta nova década, afigura-se também como um novo ponto de viragem na vida política e social de alguns países do Mundo Árabe. As causas desta efervescência revolucionária são as mesmas de sempre: uma enorme austeridade económica, crise financeira, privação de direitos sociais. Se a estes factores, adicionarmos também máquinas governativas corruptas, que com o passar do tempo têm vindo a ganhar ferrugem, obtemos então, uma bomba relógio em eminente explosão. O agente detonador sem surpresas, que é o povo. Tal como em grande parte dos países europeus, a crise financeira instaurada na Tunísia levou ao insurgir de manifestações e gritos de revolta por todo o território. O aumento do número de desempregados, a degradação das condições de trabalho e os esforços inaceitáveis que o povo tunisino tem vindo a fazer, levaram um jovem a suicidar-se deitando fogo ao seu próprio corpo. Este acto de desespero levou a então já conhecida Revolução dos Jasmins, que retirou o ditador Ben Ali do magnificente trono do poder, onde já estava sentado há mais de vinte anos. E se até agora existiam cépticos quanto à democratização dos países do mundo Árabe, caem agora as dúvidas ao chão.

O vizinho Hosni Mubarak, um dos líderes políticos mundiais há mais tempo no poder também vê os seus dias contados. Nem a remodelação do seu executivo irá acalmar a fúria do povo egípcio, pois o que se quer não é a mudança das caras do mesmo governo, mas sim o fim do regime ditatorial. Numa situação incómoda estão os seus maiores parceiros internacionais; seja ele os Estados Unidos, seja a União Europeia, ambos gaguejam quando toca a falar da situação política no país dos Faraós. Se para Joe Biden, vice-presidente norte-americano, Mubarak não é um ditador, da União Europeia não ouvimos uma palavra a seu respeito. Se para Barack Obama o mais importante é uma “transição ordeira” do poder, para Merkel e Sarkozy nada mais interessa do que a manutenção das exportações para o país, que em 2009 chegaram a atingir os 12600 milhões de euros. Na verdade, o que se passa é que, quer os E.U.A, quer a U.E encontram-se entalados, pela simples razão de que a queda do regime de Mubarak representa a perda de um enorme trunfo tanto ao nível da manutenção da paz entre Israel e o Mundo Árabe, como no contexto económico. E de facto não é para menos.
Esta semana assistimos ao aumento do preço do petróleo, ultrapassando novamente a barreira dos 100 dólares, o que representa, um aumento do preço dos alimentos, dos combustíveis, dos transportes, ou seja, um novo aumento do custo de vida, não apenas no Egipto, mas em todo o mundo. Por cá, Cavaco Silva, como já é hábito no que toca a temas relevantes para os portugueses, recusa-se a comentar a situação política no Egipto, esquecendo-se (ou fingindo esquecer-se) de que uma vez mais seremos nós, as vítimas do aumento do preço do crude e da fragilidade do sistema capitalista.
A luta do povo egípcio está longe de acabar. Desenganem-se no entanto, todos aqueles que pensam que é o povo quem deve temer o seu governo. É antes o governo que deve temer o seu povo. A revolução que decorre nos países do Norte de África é a prova viva de que regimes ditatoriais são insustentáveis, o Neoliberalismo é destruidor e só através de um forte sentido de pertença e luta colectiva consegue-se destruir a classe exploradora.

Reinaldo Miranda

 

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