Multiculturalismo e conflitualidade social Versão para impressão
Terça, 08 Fevereiro 2011

Reino Unido

A regra continua sólida. A direita só fala das culturas e de imigração quando discute segurança. David Cameron decidiu partilhar com a Europa que o multiculturalismo falhou. Não só falhou como deixou os jovens muçulmanos vulneráveis ao radicalismo.

Artigo de Nelson Peralta

 

 

 

 

 

As guerras que o “ocidente” exportou com base na mentira, as suas sucessivas violações dos direitos humanos, o recurso à tortura, Guantanamo, nada disto merece sequer uma menção honrosa. Para o primeiro-ministro inglês, o radicalismo islâmico e o terrorismo devem-se às políticas de integração e não às políticas de terrorismo de estado contra os povos.

 

Na Conferência de Segurança de Munique defendeu que os imigrantes devem aprender a falar inglês e que as escola têm que ensinar “a cultura comum do país”. Nunca se viu Cameron tão preocupado com a escola e com a sua função social. Na Inglaterra aumentou o valor das propinas de 3.290 libras para valores que podem atingir 9.000 libras. Não lhe é reconhecida nenhuma paixão, ainda que platónica, pela educação. Contudo, vê na escola o alicerce para uma das suas políticas basilares: a uniformização cultural. Cameron não deixa dúvidas, para si, a escola pública é um aparelho de dominação ideológica e cultural.

Considerar que o multiculturalismo falhou parte de um engano e é uma ideia perigosa. É errado que a Europa, ou no caso cada um dos seus estados-membros, tenha apenas uma cultura homogénea e hegemónica. A diversidade cultural é a própria raiz da Europa. Mas a ideia é perigosa. Primeiro, ao longo dos séculos, a identidade cultural dos povos da Europa foi moldada a ferro e fogo, por deportações, tortura e assassínios em massa. Não é certamente isto que queremos replicar. Em segundo, que cultura definimos como a europeia ou britânica? Essa imposição cultural será sempre a das exclusões. A exclusão dos imigrantes, assim como a exclusão de milhões de cidadãos autóctones.

O nome e os motivos atribuídos a esta nova política de exclusão são elucidativos: “liberalismo musculado”, para reforçar os valores da igualdade e da lei junto dos elementos da sociedade. Nada de novo, este é o rosto da nova direita no continente. A imposição cultural e ideológica sob a capa da liberdade, a imposição das desigualdades sob a máscara da igualdade. É a agenda da velha direita de botas, mas agora com discurso de pantufas. Berlusconi e Sarkosy não eram meros excêntricos, foram a semente da nova direita que germina.

Mas o ponto mais relevante é o momento em que surge esta comunicação do “nós e os outros”. O torie tenta construir uma identidade britânica e europeia como se o confronto social estivesse guiado e se definisse pelo conflito entre culturas. A realidade contesta. A nível nacional, Cameron tem em curso um dos mais severos planos de austeridade da Europa. As contradições acentuam-se, a desigualdade social agrava-se, o protesto popular está na rua. Numa contexto diferente, é certo, também os povos do Egipto e da Tunísia – os “outros” – estão nas ruas. No Reino Unido, no Egipto, em Portugal e na Tunísia a luta é pela democracia, pelo direito dos povos escolherem o seu futuro, e por melhores condições de vida. É a sua condição de classe explorada que os coloca nas ruas.

Não é apenas mais fácil, é mesmo conveniente que Cameron diga que o multiculturalismo falhou. Dá-lhe o alibi para o neo-liberalismo. É em seu proveito que relata um mundo visto pela lente do choque entre civilizações. Tenta assim esconder a luta de classes.

 

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