Censura: o grito de uma geração |
Domingo, 13 Fevereiro 2011 | |||
A atitude responsável que se exige a uma esquerda socialista é ser a voz consequente da censura popular à política de austeridade e aos seus protagonistas, o PS/PSD.
Artigo de Joana Mortágua
Como outros, Paulo Pedroso aproveitou o espaço do seu blog pessoal para fazer a sua analise da moção de censura apresentada pelo Bloco de Esquerda no debate parlamentar da passada quinta-feira. O hino desta moção, dizia ele em tom jocoso, é a "instantânea" “Parva que sou” (dos Deolinda). Pedroso talvez não se aperceba disso mas está coberto de razão. A incapacidade do deputado socialista em perceber o significado politico e social desta canção é compreensível: ela representa em toda a sua simplicidade o grito de revolta de uma geração inteira contra as políticas que insistem em roubar-lhe o futuro. E é por isso que Paulo Pedroso a despreza, não fosse ela - por si só - um hino de censura à instabilidade permanente das nossas vidas. Sim, esse poderia ser o hino de todos quantos querem travar as políticas de austeridade que facilitam os despedimentos, que impõem a precariedade, que atacam os direitos e o Estado social, que privatizam os bens públicos e que insistem em nos fazer pagar uma factura que não nos pertence. Esta luta contra a austeridade e o roubo faz-se no protesto, na música, nas greves, na rua e no parlamento. E a atitude responsável que se exige a uma esquerda socialista é ser a voz consequente dessa censura popular à política de austeridade e aos seus protagonistas, o PS/PSD. Em nome da defesa do país contra a entrada do FMI, PS e PSD fizeram a maioria que aprovou o Orçamento de Estado e todos os PEC's. Mas foi na antecipação dessa desastrosa politica (do FMI) que juntos deixaram correr soltos os lucros dos bancos, aplicando sobre quem mais sofre o sacrifício da austeridade. Aqui "a mão que executa" não se distingue da consciência que ordena. "Quem empresta manda!" Dizem os mercados financeiros, a Alemanha, o PS e o seu cúmplice PSD. Mas quem manda lucra com os juros da instabilidade que provoca. Não há outro resultado possível do estar a mercê de quem empresta que não seja a continuação dessa instabilidade. Ao afirmar uma alternativa ao pântano da inevitabilidade, a moção de censura do bloco de esquerda não vem criar nem instabilidade nem crise política. O governo e a sua política é que estão em crise e são sustentados por uma maioria PS/PSD que não merece a confiança popular e que se devora não por divergências programáticas mas por sede de poder. Contra a política que impõe a instabilidade na vida, a esquerda exige a clarificação de posições e a devolução da palavra ao povo. Não estamos reféns do medo do papão da direita. Se antes o povo da esquerda era pressionado a limitar-se ao centro-"esquerda" para não vir a direita, agora a chantagem está entre a politica de direita do PS e a politica de direita do PSD. "Parva que sou" é um grito espontâneo. Mas é também uma prova de que a "geração sem remuneração" está a ganhar consciência de que "esta situação dura há tempo de mais", é uma prova do falhanço da política de direita. Traduzir e dar consequência em toda a sua política à vontade de mudança desta geração e de todo o povo precarizado e explorado é a atitude firme e responsável de quem se bate pela construção de uma maioria social e de uma alternativa para o desenvolvimento do país.
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