E o povo, pá? Versão para impressão
Quinta, 24 Março 2011

As eleições antecipadas estão aí. O governo demitiu-se após a rejeição do PEC IV. O novo PEC ficou em lume brando, à espera de um reforço nas urnas. PSD já disse ao que vinha: não tem quaisquer alternativas às políticas de austeridade, quer este PEC, mas com outras caras. PS já mostrou que o S que tem no nome é dos Sacrifícios que pede aos portugueses e esse é o caminho de que não abdica. Ambos são os rostos do capital para impor a austeridade ao país. Apresentam a austeridade como inevitável e o bloco central como um desígnio nacional.

Já conhecemos a ladainha do capital em momentos de crise: Mais vale um salário baixo, do que nenhum salário; mais vale um emprego precário, do que emprego nenhum; mais vale comer pouco, do que não comer nada; mais vale ter alguma fome, do que andar sempre esfomeado. É a política do pior que sucederá ao mau e, por isso, mais vale ficar com o mau. É a teoria da inevitabilidade que nos impingem para, dizendo que estão a defender alguma coisa, nos tirem o pouco que temos. É a ladainha da mentira, pois percebemos que os sacrifícios não são para todos. Que o digam os bancos, por exemplo, que nunca são chamados a pagar a crise.

A vida da luta de classes chegou a um momento de clarificação. O capital já decidiu patrocinar um bloco central, com ou sem o CDS. Alguns chamam-lhe o governo de salvação nacional, certamente, porque esperam que este governo salve as suas taxas de acumulação das reivindicações populares. O capital apresenta esta saída para que não seja colocado em causa. Inevitável, dizem eles, num determinismo que não podemos aceitar. As vozes que saem à rua clamam por alternativa e não por alternância. É esta a disputa que temos pela frente. A alternância é o canto de sereia do capital; A alternativa é a certeza de que um outro mundo é possível.

As gerações sacrificadas por sucessivas políticas para a acumulação do capital e pelo desmantelar das conquistas de Abril têm agora o poder nas mãos. A maioria que rejeita a precariedade e clama por direitos laborais, por um Serviço Nacional de Saúde, por Educação Pública, por um sistema de Segurança Social, é a força da mudança do país. É a voz que tem de se fazer ouvir nas próximas eleições. É a resposta face ao determinismo que o capital procura impor, mostrando que a tal salvação nacional só é possível se rompermos com a alternância. Esta é a grande disputa. Não está escrito nas estrelas que o capital saia reforçado nas próximas eleições. Ainda falta uma palavra final, a do povo. 

Pedro Filipe Soares

 

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