Mais um texto de balanço ? |
Terça, 28 Junho 2011 | |||
Principalmente desde dia 5 de Junho que abundam os textos de balanço sobre o Bloco de Esquerda, a sua estratégia e linha política, sobre os seus erros e sobre as suas virtudes. Todos com um reivindicação que me parece mais que legítima: pensar o futuro. Mas não me parece que passar tanto tempo a olhar para o passado nos traga algo de muito prático para o futuro; sempre que ficamos demasiado tempo parados a contemplar o passado, a analisá-lo centímetro por centímetro à espera de alguma revelação deixamos escapar mesmo pelos nossos dedos o presente e o futuro. Atenção, não quero dizer que não deva haver o debate interno sobre as escolhas passadas, porque deve! Deve porque os militantes do Bloco têm essa necessidade, uns por genuinamente não terem percebido as escolhas na altura, outros por catarse, outros por não acreditarem na existência de democracia interna (?), outros para terem apenas mais uma razão para quererem destruir não só a direcção do Bloco, mas todo o BE. E num partido como o nosso cabem todos estes militantes e muitos mais; e o debate está a decorrer, como deve ser. Um dos mais sonantes pedidos que tem vindo a aparecer nestes debates é a urgência de uma convenção extraordinária ou antecipada; porque é preciso mudar o rumo de Bloco de Esquerda, porque é preciso renovação, porque é preciso outra linha política. Mas será assim mesmo? O Bloco decidiu na última convenção há mais de um mês o seu rumo político; tendo em conta as eleições que estavam próximas, sim, mas também tendo em conta o que é o Bloco e para onde nos propusemos sempre caminhar. Quando a moção mais votada tinha como mote “Juntar forças pelo emprego e contra a bancarrota” não estava errada na altura, como não está errada agora; agora é que esta luta se vai agudizar, agora que temos um governo PSD/CDS que tem como missão fazer cumprir o plano da troika, também assinado por PS (por isso quem acha que o PS seria um pouco menos mau, desengane-se, a história ia ser a mesma!). Mas PSD/CDS não querem ser apenas marionetas e já estão a avançar, quais bebés a começarem a andar sozinhos, para além do plano da troika com o seu próprio plano de antecipação de privatizações! A linha política do Bloco terá que continuar a ser a luta por um código de trabalho justo, combater a precariedade, dentro do Parlamento e na rua, juntando forças com os movimentos sociais, tentar manter um serviço nacional de saúde e a escola pública, apresentar propostas que combatam o desemprego crescente; defesa de direitos iguais para todos e para todas, justiça em todos os aspectos da vida do país e dos cidadãos. O Bloco tem, assim, uma linha política muito bem definida, que, ao contrário da maioria dos partidos, não vai ao sabor da corrente e dos tempos, não se tornando um partido eleitoralista; estes, em termos de ciência política, são os partidos que deixam de lado ideologias ou mesmo militantes de base pois o único objectivo é maximizar as vitórias eleitorais com o menor custo possível. Tenta agradar a gregos e a troianos, na maioria dos casos não apresentando programas políticos com conteúdo real. E foi exactamente isso que vimos por parte dos partidos da direita em Portugal: todos estavam e estão presos a um programa externo, um dos mais flagrantes ataques a um regime democrático. Vimos partidos sem um programa eleitoral porque esse já estava feito pela troika, vimos 3 partidos que, em muitos momentos, pareciam um e o mesmo. E por parte do Bloco de Esquerda? Pois bem, por parte do Bloco de Esquerda vimos propostas concretas que vão de encontro à situação vivida, vimos uma campanha com conteúdo e próxima das pessoas, vimos política a sério! É verdade que não obteve os resultados esperados e é aqui que entra a estratégia política, algo bem diferente do que se tenho vindo a falar até aqui; a estratégia é a melhor maneira de pormos em prática certas linhas políticas. E sim, em termos de estratégia muita coisa falhou, houve tempos que não foram os mais correctos, houve más avaliações do contexto e do próprio partido. A nada disto devemos fugir; e é por aqui que deve passar a nossa discussão para mudar de futuro, por uma estratégia política que se coadune com os valores socialistas que o Bloco defende, voltando aos núcleos mais locais, alargando a sua base militante e de simpatizantes. Mas a estratégia também implica pensar com muito cuidado que tipo de alianças se fazem e se poderão fazer no futuro; e é necessária num partido político, caso contrário o caos seria a palavra de ordem. Sobre a renovação dos quadros políticos, também a estratégia política tem um papel importante; não há renovações completas em semanas, nem meses, nem se calhar um ou dois anos; além disso, a última Mesa Nacional eleita é das mais jovens do BE. Ninguém nega a necessidade de renovação dentro do Bloco, mas ela tem que ser bem preparada, bem pensada, caso contrário apenas ajudaremos a dar uma última machadada no partido que incomoda os donos de Portugal, no único partido que tem propostas concretas alternativas à esquerda! Sem dúvida será preciso muita discussão, muitos encontros, muita reflexão; tudo deve ser ponderado e muito bem ponderado e aquilo que nos une deve prevalecer sobre o que nos separa de modo a ser possível encontrar consensos e enfrentar com forças renovadas mais uma ofensiva neo-liberal. Seja o nosso lema “Mudar de futuro”, “Juntar Forças” ou “Vota em quem lhes bate forte” o nosso objectivo é o mesmo: derrotar o neo-liberalismo e devolver a vida às pessoas! Isabel Pires
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A Comuna 33 e 34
A Comuna 34 (II semestre 2015) "Luta social e crise política no Brasil" | Editorial | ISSUU | PDF
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