Empoderamento Feminino |
Domingo, 17 Julho 2011 | |||
Porque motivo falarmos hoje do empoderamento das mulheres? É simples, porque muitas igualdades e direitos são ainda negados às mulheres contemporâneas em todo o mundo. Para um empoderamento das mulheres faltam ainda travar muitas lutas. Digamos que estamos mais ou menos a meio caminho do empoderamento mas em risco de recuar com uma viragem à direita do país e da Europa. Faltam-nos ainda direitos fundamentais como os salários iguais, oportunidades de emprego iguais, uma prevenção/punição efectiva relativamente à violência de que as mulheres são alvo, mais voz social e política e ainda uma importantíssima presença efectiva na História. As mulheres continuam a ser um outro na sociedade apesar da lei portuguesa considerar a equidade, na realidade, a equidade legal não corresponde à prática diária e à vida das mulheres. Existe um desequilíbrio baseado no género e no papel social que se atribui às mulheres que poderá ser, muitas vezes, inconsciente mas, outras tantas vezes, é explícito e claro como água. Também é de considerar que o processo de empoderamento não é algo terminado, não é algo de que possamos ver o fim, a sua conclusão, não é produto acabado. Não o é por diversos factores que intervêm e dificultam o processo fazendo com que andemos em frente para logo recuar e outras vezes nos façam andar aos círculos durante décadas… Um exemplo deste andar aos círculos foi a liberalização do aborto que consumiu à luta feminista portuguesa 30 anos da sua energia. Passo a passo, geração a geração novos desafios nos são colocados e a realidade é que nenhum de nós sabe o começo desta luta porque desconhecemos o tempo no qual a verdadeira igualdade entre géneros existiu. Sabemos sim que em séculos de lutas, importantes conquistas foram feitas mas que o empoderamento das mulheres ainda vai longe. E quando falamos de empoderamento das mulheres consideramos mesmo todas as mulheres nunca esquecendo as que pelo mundo são mutiladas, mortas por apedrejamento, não têm voz social nem politica, não têm poder sobre a sua vida, o seu corpo e o seu rosto e infelizmente não são tão poucas quanto isso. Considerando todas as mulheres, sabemos que muitos mais séculos de luta nos esperem. Nesta luta é necessária uma contestação eficaz das estruturas capitalistas, neo-liberais e patriarcais porque no caso específico das lutas feministas e da ameaça ao empoderamento feminino, o neo-liberalismo e patriarcado estão intimamente ligados. Não podemos abordá-los, enquanto mulheres, como dois fenómenos dissociados tal como não abordamos nem dissociamos questões de raça, credo, cultura, género e outras de forma dissociada dos direitos humanos. Fragmentar e dissociar aquilo que oprime e afecta as mulheres limita-nos na abordagem e no avanço do nosso empoderamento. A luta feminista tem em si as lutas pela Paz, as lutas pela Liberdade, pela Igualdade e pela Justiça porque não dissocia os direitos das mulheres dos direitos à vida e à liberdade de todo o género humano. Não fragmenta, isolando e alienando, a sua luta das lutas de todos os seres humanos pelo direito a uma vida digna e livre de opressão. O empoderamento feminino corresponde igualmente ao empoderamento do género humano como um todo. Apesar de um pouco generalista nos seus ideais base, existem momentos nos quais a luta feminista deve ser travada pelas mulheres enquanto género considerando sempre o enfoque necessário às questões que à mulher são mais afectas e ponderando as questões das mulheres mais oprimidas e fragilizadas com uma especial atenção e urgência. Temos de fazê-lo camaradas porque se não o fizermos mais ninguém o fará. Esta necessidade de especificidade feminista surge-nos pela História que nos ignorou durante séculos. Diz-nos a história dos movimentos feministas, que as lutas travadas em conjunto (homens e mulheres) por uma libertação comum para todos os humanos tiveram, na sua maioria, um sabor amargo para as mulheres pela facilidade com que após as conquistas a liberdade se atingiu apenas para alguns sendo as mulheres empurradas para a mesma condição de antes ou para uma condição semelhante. Para um real empoderamento feminino é necessário que as mulheres ganhem consciência política e se envolvam em movimentos políticos e associativos activos nunca esquecendo a sua luta específica e chamando a atenção para a mesma. A direita e o neo-liberalismo agudizam o patriarcado e promovem fortemente um retrocesso civilizacional nos direitos humanos e sociais. Perante este panorama, urgem a conquista social de uma diferenciação positiva (na gravidez e aleitamento não havendo discriminação laboral), a consolidação e defesa do direito à interrupção voluntária da gravidez (que antes mesmo das eleições fizeram questão de ameaçar), uma destruição da estereotipia social e também política, consideração das mulheres enquanto sujeitos políticos e históricos (importância da visibilidade histórica da Mulher incluindo nos programas escolares trabalhos, conquistas, descobertas e batalhas levadas a cabo por mulheres que são sempre ignoradas historicamente fortalecendo a estereotipia promovida pelo patriarcado), esforço pela abolição da linguagem sexista em muitas situações (que integra o feminino como parte inerente ao masculino dissolvendo-o neste), rompimento das hierarquias de poder neo-liberal, capitalista e patriarcal conquistando uma esquerda democrática para tod@s, paridade em todas as vertentes da vida, conquista da voz para todas as mulheres (independentemente da sua cultura, literacia, etnia), valorização de outras formas de conhecimento abrindo o diálogo a outras culturas promovendo a interacção, a compreensão e a paz e promovendo a criação de redes de esquerda europeias e de esquerda feminista europeia para um eficaz progresso social, valorização da reflexão crítica, consolidação do direito ao trabalho e ao emprego com direitos combatendo assim a feminização da pobreza e a vulnerabilidade da mulher…enfim, uma vasta imensidão de urgências para as quais devemos começar a construir junt@s uma resposta. O empoderamento das mulheres é igualmente um empoderamento colectivo pelos direitos de tod@s, pela liberdade de tod@s, pela justiça para tod@s e por esse motivo é um tema que deve estar activo e presente na agenda política de agora e de sempre. Nádia Cantanhede
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A Comuna 33 e 34
A Comuna 34 (II semestre 2015) "Luta social e crise política no Brasil" | Editorial | ISSUU | PDF
A Comuna 33 (I semestre 2015) "Feminismo em Ação" | ISSUU | PDF | Revistas anteriores
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