Chão da Lagoa, BPN e primeiro mês de governação: diz que é uma espécie de silly season Versão para impressão
Terça, 02 Agosto 2011

jardim

Quando o mês de Agosto bate à porta, a expressão que prolifera por todos os meios de comunicação social e pelos seus famigerados opinion makers é silly season. Ora, o senso comum diz-nos que esta expressão se refere à frivolidade, futilidade e até, inutilidade, patente nas notícias que nos chegam numa altura onde toda a actividade política cessa – quando o país “está de férias”. Apraz-me dizer que este ano, e ainda que Passos Coelho – na sua altiva posição de Salvador da Pátria – tenha anunciado que os deputados não deveriam contar com férias tão cedo visto que até no santo mês de Agosto é necessário legislar mais austeridade, o termo silly season tem vindo a ganhar toda uma nova expressão e dimensão.
No passado fim-de-semana, realizou-se no Chão da Lagoa a mais popular das festas laranjinhas. Invariavelmente, a mesma continua a pautar pela ostentação do “regime” social-democrata da Madeira, com o seu líder indisputável a vociferar, novamente, para todas as direcções. Entre o pseudo bate-boca com Paulo Portas e a sua vã promessa de deixar o poder caso não consiga maioria absoluta nas eleições regionais de Outubro (lembremo-nos que em 2007 já havia jurado a pés juntos não se recandidatar), Jardim teceu um iluminado comentário relativamente ao Bloco de Esquerda. Segundo as sábias palavras do Líder do PSD/Madeira, o Bloco é "aquele partido dos casamentos gays". Acrescentando que "essa fruta não é fruta que seja consumida dentro do povo social-democrata. Eles que vão casando uns com os outros”. Cabe-me a tarefa de agradecer, da forma mais sincera possível, a Jardim. É verdade o que este diz. O Bloco de Esquerda é “o partido dos casamentos gays”. Aproveito para clarificar que somos também o partido que defende a IVG, que apresenta no Parlamento a proposta de lei para legalizar a eutanásia, que quer também legalizar as drogas leves, que defende o fim dos falsos recibos verdes, que quer uma auditoria pública à divida, que quer renegociar essa mesma dívida, que defende os direitos de Abril, que luta contra a precariedade, entre tantas outras coisas.
Tudo aquilo que incomoda o arco governativo, preocupado com a saúde do capital financeiro ao invés de se preocupar com os direitos dos portugueses, é e continuará a ser defendido pelos bloquistas. O argumento falacioso de que o Bloco é o partido das causas fracturantes e que pouco interessam é já o discurso dominante das peças da “mobília” conservadora/bacoca do mundo político português. O Bloco luta para que estas causas fracturantes, que na realidade não o são ou pelo menos não o deveriam ser, sejam discutidas na esfera pública. Tudo porque, acima de tudo, o BE é um partido que luta pela igualdade dos cidadãos e para que cada um deles possa usufruir dos seus direitos. Partidos que existem única e exclusivamente com o propósito de defender o pobre capital financeiro há muito que existem e governam este país. Posto isto, só me resta reiterar o agradecimento ao madeirense por tão prestigioso e notável reconhecimento.
Falando em direitos e em igualdade, é assombroso ver a perpetuação do ataque cerrado por parte do capital ao salário e aos direitos do trabalhador. Este primeiro mês de governação da coligação entre PSD/CDS fica marcado por mais austeridade patente no imposto sobre o subsídio de Natal, nas alterações ao código do trabalho, no aumento brutal do preço dos transportes e com a venda a preço de saldo do BPN. Que Passos Coelho iria quebrar promessas de campanha eleitoral, dúvidas não restavam. A questão é que não o esperávamos tão cedo. Os neoliberais já nem se dão ao trabalho de omitir a sua agenda política.
O BPN irá, desde já, tornar-se num símbolo daquilo que este Governo irá promover. Tudo aponta para que esta venda por cerca de 40 milhões de euros trará um enorme prejuízo ao Estado que por si só já investiu mais de 2,5 mil milhões de euros no BPN. Já para não falar das obrigações que ainda vão ligar o Estado ao Banco Português de Negócios. Novamente, este negócio apenas vem servir os interesses do capital financeiro que consegue desta forma fechar um verdadeiro negócio da China. O regabofe continua. Os donos do capital regozijam enquanto os portugueses irão continuar a penar ao ver o dinheiro dos seus impostos enterrado em nacionalizações de prejuízos e nos negócios for the boys.
Poder-se-ia ainda falar da privatização da RTP, das querelas entre a Imprensa e a Ongoing, das nomeações para a CGD e das Secretas, entre tantas outras. No entanto, é maçador continuar a interpretar e desconstruir notícias que de sério pouco têm. O ridículo desta silly season que não o era suposto ser -dada a preocupante situação do nosso país -, serve como elemento caracterizador dos políticos que irão liderar o nosso país num futuro próximo e que nos encaminha, de forma calma e confiante, para as garras do capital e para o consequente abismo. Isto é… a menos que o partido do casamento dos gays tenha algo a dizer. Infelizmente para esta silly classe político-económica, parece-me que terá.

Cláudia Ribeiro

 

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