«Enquanto eu estiver na política activa na Madeira, seja qual for o partido que esteja no poder em Lisboa, ninguém toca nos direitos do povo madeirense, porque o meu partido é a Madeira». Este é o argumento de todos os populistas, este é o argumento de Alberto João Jardim. O problema são sempre os “cubanos do continente”. E a verdade é que alguns dos “cubanos do continente” também são culpados. Para “falar verdade”, há até algumas “cubanas” que entram no rol dos culpados e culpadas. “Política de verdade” … lembram-se? Não vai longe o tempo em que Manuela Ferreira Leite falava em “política de verdade” e “asfixia democrática”, mas em relação à Madeira só sabia dizer que era um ótimo exemplo de governação. O demorado silêncio de Passos Coelho sobre o buraco financeiro, sobre a dívida escondida, inscreve o primeiro-ministro nessa velha tradição das lideranças laranjas de alternar entre: ora o silêncio sobre as derivas antidemocráticas de Alberto João Jardim, ora a apresentação do “regime de excepção” madeirense como um exemplo a seguir. Um terceiro género de atuação era a ofensiva, de má memória, perpetrada pelo ex-primeiro-ministro rosa José Sócrates, uma perseguição injusta para as cidadãs e os cidadão madeirenses e que ao regime jardinista apenas dava força e capital de queixa. O regime de excepção que se vive na Madeira vai desde simbólicas recusas de comemorar o 25 de Abril, passando por ataques à liberdade de imprensa e à liberdade de opinião, afrontando a transparência e os princípios do Estado de direito não aplicando a lei das incompatibilidades, chegando a cúmulos da arbiterariedade com um levantamento de imunidades parlamentares apenas para perseguição judicial à oposição mas nunca para investigação de deputados do PSD/M … a lista é imensa e a vergonha nenhuma. Alberto João é o rosto disto tudo, mas não é o único responsável deste buraco na democracia. Exemplo recente é o caso do Director dos Assuntos Fiscais da Madeira, membro da Comissão Política Regional do PSD/M, foi um dos acusados por factos susceptíveis de fraude qualificada, fraude contra a Segurança Social e branqueamento de capitais. E se quem não deve não teme, porquê as recusas frequentes de levantamentos de imunidades aos parlamentares do PSD/M? E porquê a ordem dada por Alberto João Jardim ao Governo Regional, Parlamento Regional e Jornal da Madeira para não receberem a Comissão Nacional de Eleições no âmbito da preparação das eleições de Outubro? O Luís Fazenda recordava, no passado dia 17 de setembro, que: «Há para aí 15 anos que a UDP, e depois o Bloco de Esquerda, têm exigido uma auditoria à dívida da Madeira. Hoje está à vista que os buracos da pérola atlântica são um caso de polícia. E as eleições têm criminosos como candidatos, o PSD e a sua antimaçónica quadrilha de malfeitores. O Passos bem pode dizer "tirem-me daqui", mas ele tem o rabo preso». As madeirenses e os madeirenses não podem ser obrigados/as a um duplo sacrifício de austeridade, pois como revela aquela síntese: o que está em causa não é apenas um problema de contabilidade, é um problema de justiça, trata-se de um buraco na democracia. Como afirmou o Roberto Almada, cabeça de lista do Bloco de Esquerda às regionais de 9 de outubro: “os responsáveis por este verdadeiro crime têm de ser punidos”, afirma a necessidade de “para derrotar quem desbarata os nossos recursos”.
Bruno Góis
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