"Vem comigo para a rua" Versão para impressão
Quarta, 19 Outubro 2011

15_out

Sai de casa e vem comigo para a rua,
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que,
mais perde se não vens.

 



Aquele refrão dos Deolinda, com as devidas adaptações dessa canção de amor curiosamente chamada Um Contra o Outro (canção de desafio à pessoa amada), ganha para mim nos tempos que correm outro sentido: o do apelo à luta social e política contra quem nos rouba a vida.

Há há uns meses, no início do ano, o Que Parva que Sou foi apropriado pela revolta popular e junto com o satírico E o Povo, Pá! dos Homens da luta serviu de mote musical para o protesto do 12 de Março. Antes e depois do 12 de Março houve jornadas de luta em vários setores de trabalho e igualmente um protesto marcado pela CGTP a 19 de Março. Antes e desde a censura apresentada pela esquerda parlamentar, os movimentos sociais censuraram o governo. O Governo viria a cair e, como governo de gestão, chama o FMI, a 6 de abril (1).
Em maio e junho, surgiram novos protesto de rua: as acampadas a do Rossio e outras pelo país, inspiradas pelas acampadas em Madrid e muitas outras cidades da península ibérica. Muito menos expressivas, em Portugal, que as centenas de milhares de pessoas do 12 de Março, as acampadas recuperam também a prática das assembleias populares. A  sua influência social em Porugal é muito escassa, mas a reafirmação da prática da Assembleia Popular é um dado novo a ser integrado no processo de luta.
As eleições de 5 de junho afirmaram a vitória da política do medo, da força da tutela austeritária. À troika FMI-CE-BCE junta-se o novo governo da troika interna da governabilidade falhada, agora sob a égide de um governo PSD-CDS e com um PS que apoia o governo a 99,999% (o que sobra são os 0,001% de probabilidade de votar contra o orçamento, nas palavras do próprio António José Seguro). A viragem à direita, processo de dimensão europeia, personificou-se em Portugal no triste tripé Passos-Portas-Seguro (menos umas insignificâncias, a dita milésima).
A esquerda, derrotada eleitoralmente, tem a responsabilidade de ser mais combativa que nunca. A rua e a mobilização popular, face à maioria esmagadora dos partidos da troika, são fundamentais para a luta social. E perante o agravamento dos sucessivos pacotes de austeridade a resposta popular está a ser a de superar as formas de luta anteriores integrando-as em formas mais avançadas.
No 15 de Outubro, não desaguou o mar de gente do 12 de Março, mas a energia de protesto que deu provas naquele dia associada à promoção dada pela comunicação social, dificilmente se repete. Principalmente pela parte da comunicação social, controlada por interesses privados e pelo controlo governamental. Quem quiser medir o sucesso do 15 de Outubro por aí está enganado. O sucesso está em ser uma das maiores participações nacionais num protesto convocado internacionalmente em nome dos 99% de explorados contra os 1% de exploradores. O sucesso está em ter-se unido o protesto de massas com uma assembleia popular frente ao órgão de soberania Assembleia da República. O sucesso está no apelo a um novo protesto e a uma Greve Geral.
Temos hoje, para marcarmos na nossa agenda, o protesto de 26 de Novembro marcado por aquela Assembleia Popular e a Greve Geral entretanto marcada conjuntamente pela CGTP e a UGT para 24 de Novembro. Esses são os principais momentos, mas a agenda é mais exigente, tão exigente quanto a dureza das medidas que nos impõem.
É tempo de afirmarmos que Não nos conformamos! Nenhuma das conquistas do Estado social pode recuar. Saúde Pública, Escola Pública, Segurança Social, 13º e 14º mês, direito ao trabalho e direitos no trabalho. Tudo isso são conquistas sociais. Foram muitas lutas, foi muita luta. Ninguém nos deu nada. E hoje só nos roubam.
 
Diz Não! Indigna-te e luta!
Bruno Góis
 Nota (1) Sobre estes acontecimentos d' "As vésperas do FMI" escrevi mais demoradamente n' A Comuna nr. 25, pp. 16-19.
 

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