"Cortem-se os dedos, salvem-se os aneis!" Versão para impressão
Terça, 22 Novembro 2011

 

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Pouco a pouco tudo se vai clarificando: Frau(de) Merkel, embora ainda calce as botas altas de dom(in)adora sádica dos povos do Sul, com o orgulho ariano a rebentar-lhe as lâminas de aço do espartilho, já escondeu o chicote sabe-se lá onde, ao ver as notas do euro a tombar como um castelo de cartas. No jogo do monopólio europeu já não são só os PIIGS a perder; a seguir a Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha (Rajoy já pediu ajuda a Merkel, no seu primeiro acto de vassalagem) perfilam-se no patíbulo a beneluxuosa Bélgica e até a França de Vichy, perdão, de Sarkosy. Afinal, o problema parece que não está só nos povos de bárbaros calaceiros que gastam à tripa forra o dinheiro emprestado pelas nações que se esfalfam a trabalhar (“arbeit macht frei”) para poderem cobrar juros agiotas (Heil das kapital!)

Por cá, o Presidente da República, há cerca de quinze dias, veio inaugurar o novo centro de saúde de Nelas e aproveitou para aconselhar os portugueses a trabalharem mais, já que o trabalho dá saúde (arbeit macht gesundheit!), como todos sabem, e em particular, as famílias do concelho de Nelas que tiveram maridos, pais e filhos a trabalhar nas Minas da Urgeiriça e que já viram passar para o outro mundo mais de uma centena de ex-trabalhadores das minas de urânio. Mas Cavaco Silva, que sendo um distinto economista não tem que saber destes danos colaterais do trabalho, esmerou o discurso presidencial com um jargão regionalista exortando os portugueses a seguirem o exemplo do “moiral”, o tradicional “pastor que conduzia ao longo dos séculos os seus rebanhos de Nelas às terras altas” da Serra da Estrela, numa transumância que o privava de tempo livre, já que, esclareceu o senhor Presidente, para ele “não havia fins-de-semana, não havia feriados, não havia férias, não havia, tão-pouco, pontes em nenhumas circunstâncias”.

“Moiral”, segundo José Leite de Vasconcelos é a contracção de “maioral” (o principal pastor do gado) , no dialecto alentejano. Mas já se achou escrito “moural”. Em qualquer dos casos, no actual contexto, este termo remete-nos para a expressão idiomática “mouro de trabalho”. E assim se consumaria o nosso destino de mouros, trabalhadores mal pagos da “Europa do Magrebe”. É que “moira” é também o nome de uma divindade da mitologia grega que simbolizava o destino.

Divinos são os senhores da Troika que, não sendo eleitos por ninguém, têm o poder de deixar os ricos no paraíso (fiscal) e mandar os pobres para o inferno (da miséria e do desemprego). Aproveitando a deixa do presidente desta República que lhes paga principescamente para servirem de maiorais do luso rebanho tresmalhado da estabilidade da moeda única (única até ver...), transumandam-nos para o passado salazarista, sugerindo ao governo a redução de salários também aos trabalhadores do sector privado.

PSD e CDS negam as promessas eleitorais mas cumprem o objectivo de Passos Coelho para o futuro: “Temos de empobrecer”. O país afunda-se na recessão e os portugueses empobrecem até ficar exangues para recompor o sector bancário, o causador desta crise europeia. É caso para dizer que o governo PSD/CDS faz o contrário do ditado popular: “Vão-se os anéis, salvem-se os dedos”. Passos, Portas & Cª optam por cortarem os dedos dos portugueses para salvar os anéis dos banqueiros. Passos Coelho ainda tem o cuidado de tranquilizar os banqueiros dizendo que podem continuar a aceitar a ajuda do Estado porque o seu governo será “um accionista passivo”. Até apetece dizer-lhe, correndo o risco de parecer homófobo, que seja passivo à vontade, mas que o Zé Povinho está cansado de ser comido...e mal pago.

E no meio de tanta promiscuidade que faz o líder do maior partido da oposição? Mostra-se enciumado por não poder fazer “ménage à trois”, um triângulo amoroso com Passos e Portas. Confessa que gostaria de votar a favor do Orçamento, mas que ficou em estado de choque quando viu que os barões assinalados passaram ainda além da Troikitana. Vai daí, anuncia a “abstenção violenta” do PS (“segurem-me, senão vou-me a eles!...”) contra a opinião de 22 membros da comissão politica do seu partido. Primeiro está a ocidental praia lusitana, depois os indígenas que ainda não emigraram, diz Seguro, com o engenho e a arte do grumete que se enfia no salva-vidas do comandante e abandona à sua sorte os tripulantes do navio que, por mares nunca de antes navegados, está condenado a ir ao fundo. Argumenta que vai negociar um desconto de 50% no saque dos piratas. Que bom que ele é! O governo quer cortar-nos os dedos das duas mãos, mas ainda bem que temos este seguro para nos acudir nesta aflição: “Não, cortem-lhes apenas os dedos de uma mão”.

Talvez haja quem fique agradecido, mas eu, cá por mim, prefiro ficar com os dedos das duas mãos incólumes e arriscá-los “em perigos e guerras esforçados”, pela liberdade e pela igualdade, até onde permitir a força humana. Além do mais, desconfio de quem se compromete a comprar e só depois é que regateia o preço.

“Cantando espalharei por toda a parte”: cessem o remédio grego que para a lei da morte nos vai empurrando e as leis viciosas com que nos vêm devastando. “E se todo o mundo é composto de mudança, troquemos-lhe as voltas, que ainda o dia é uma criança”. No dia 24 de Novembro outro valor mais alto se alevanta: o peito ilustre Lusitano. Como em Abril.

 

Carlos Vieira e Castro

 


Porque a precariedade não é um processo natural de emprego, mas sim politicamente orientado e por isso reversível. Não nos resignamos ao trabalho sem direitos.

 

Artigo de Francisco Alves, dirigente sindical


 

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