Tanta fome e a malta dorme Versão para impressão
Terça, 06 Dezembro 2011

 

É época de velarmos os finados…

As andorinhas há muito que partiram,

e com elas levaram os seus trinados,

os filhotes e a alegria primaveril.

É Outono, tempo de nostalgia,

e a tristeza toma conta de nós,

e tudo tem menos alegria,

porque o cinzento nos invade.

Aqui um mendigo, ali um padre…

A caridadezinha é apregoada

por uma beata feiosamente irritante,

e o lugar de regedor tem de novo sentido.

A praça da jorna, não tarda, torna…

O trabalho é escasso e a fome grassa…

Mesmo aqueles que defendem o sistema,

sentem na pele os efeitos da situação,

preocupante, que não passa,

e só os mais fortes são procurados…

Com pieguices cardiológicas,

escrevem-se lindos poemas de sonho,

de amores platónicos, de abundância…

As bactérias provocam cáries nos dentes,

nas bocas doentes, e as higienes

estão, como o dinheiro, ausentes…

Os veículos, parados, condicionam,

cada vez mais a vida das pessoas…

O tempo regrediu décadas no tempo,

e a frase que mais se ouve e pronuncia,

é algo que há muito não se ouvia…

“Tanta fome e a malta dorme…!”

 

poema inédito de Duarte Arsénio (1957- ), autor de Reflexos do meu sentir (Edium, 2011)

 

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