Democratismo ou democracia contrafeita… |
Domingo, 11 Dezembro 2011 | |||
Para os democratas, colocar em causa a democracia denota de imediato uma manobra reacionária que, de per si compromete a própria democracia. Marcelo Rebelo de Sousa criticou Vasco Lourenço, por este ter alertado para os perigos que acossam os ideais de Abril. A resposta do comentador foi perentória ao afirmar que estamos em democracia e o povo é que escolheu… À primeira vista tem razão, é uma verdade de La Palice… Mas será que foi o povo que escolheu? Será esta, uma verdadeira democracia? Os Media, o verdadeiro marketing político, sempre amedrontou os eleitorados para o “perigo” da Esquerda, acusando-a de ser detentora de propostas sem exequibilidade ou até, de nem ter propostas. Este dogma recorrente, de que não somos alternativa, garante o rotativismo e desgasta a imagem de quem apresenta um compromisso de mudança. Com o tempo percebe-se que as propostas do BE têm fundamento, como é o caso da renegociação da dívida, mas os eleitores não conseguem interpretar o poder de manipulação da burguesia capitalista, sob a batuta da ditadura dos mercados e condenaram o que hoje consideram verosímil. A abstenção fornece um indicador importante sobre esta consciência, o eleitorado não está ciente da responsabilidade e das consequências da sua renúncia em relação às escolhas do rumo do país. Tudo isto é mais perverso se percebermos que são os maiores partidos que tiram proveito da abstenção e, por sinal, são eles os grandes responsáveis por esses números. Há, também, um claro apoio das instituições internacionais aos partidos do regime eurocapitalista que alternam, conforme a imagem que vão exercendo sobre o eleitorado, contudo, mantendo a mesma orientação política. Acontece assim com PS, PSD e o extrínseco CDS. Associado a isto, temos a consciência de vários fatores que inibem as pessoas de fazerem valer os seus direitos e até de expressar a sua opinião e não é por acaso que o exercício de democracia direta é uma pedra no sapato dos partidos do rotativismo. A rejeição do referendo ao Tratado de Lisboa é um exemplo da democracia “debilimitada” que temos. A comprová-lo, e na ordem do dia, temos a governação Merkcozy a ditar a mudança de tratados, mas sem referendo. Já nas autarquias se a democracia nos órgãos instituídos deixa muito a desejar, as reformas que pretendem a este nível, vão bipolarizar mais ainda a política nacional e aniquilar as minorias. A democracia tem sido aquela que o poder económico quer que tenhamos e por isso é uma democracia acondicionada. Assistimos ao que se passou na Grécia e na Itália, à escolha sem eleições, de tecnocratas primeiros-ministros com o Goldman Sachs como pano de fundo. Por isso, hoje, ouvimos termos como Debtocracy, ou Dívidocracia, em que a dívida é quem mais ordena. Os mercados financeiros funcionam como verdadeiras ditaduras como, também, defende Freitas do Amaral. Essas ditaduras exercem o poder sobre a União Europeia e os estados sem qualquer oposição, porque isso seria afrontar os grandes grupos económicos que sustentam este governo imperialista do capitalismo. O próximo tratado vai dar a Merkel o que Hitler não conseguiu. Volker Kauder no congresso da CDU de Merkel traduziu bem este processo ao afirmar, "A Europa está a falar alemão, não a língua, mas a aceitação das políticas pelas quais Angela Merkel lutou durante tanto tempo e com tanto sucesso". A própria Merkel fez referência aos benefícios e lucros da Alemanha neste contexto e o Tratado de Lisboa (Porreiro pá) foi um passo para abrir caminho. De seguida vamos ter institucionalmente, o domínio sobre os estados e mandato para punir quem não se submeter aos mercados… São alarmantes os sinais de autoritarismo, uma caraterística da direita que domina e convence a muitos, é esta a via para “combater os excessos da liberdade”. É com este populismo que vão implementando um autoritarismo musculado e consentido no mundo do trabalho, na educação e até no campo social. Por tudo isto afirmo sem receios, que estamos perante uma democracia especulativa, o democratismo ou democracia contrafeita. Paulo Cardoso
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