O Imperativo do Comunismo e a sua própria força imperativa Versão para impressão
Quarta, 18 Janeiro 2012

 

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“Não será próprio da espectralidade do espectro, do espectro enquanto espectro, estar sempre por vir, vir do porvir e ainda mais ameaçar voltar a vir, regressar?”
(Sousa Dias em A grandeza de Marx, por uma política do impossível)

 

O neo-liberalismo morreu duas vezes: como doutrina política e como teoria económica (em Da Tragédia à Farsa, por Slavoj Zizek) e todas essas expressões desse liberalismo não são já vivência, são sobrevivência.
A partir desta premissa e se a aceitarmos como verdade real e histórica é possível fazer uma visita ao passado para tentar entender o que podemos esperar do Futuro ou, melhor, o que o Futuro pode esperar de nós.

Consiste numa morte da doutrina neo-liberal mas o sistema, a superestrutura ainda funciona (ainda que com algum escondido desespero) e soube bem escolher os seus primeiros alvos a abater e os mais próximos, em tempos de crise, são sempre vistos como os mais fáceis de anular – têm demasiadas coisas em comum para ocupar os mesmos espaços de poder. A Europa é o cemitério dessas experiências políticas de uma social-democracia que se demitiu da luta de classes e se tornou numa via (essa Terceira Via) que, habituada já aos seus espaços de poder, nunca sequer teve inteligência para se habituar à ideia de que, um dia, uma crise capitalista os poderia por em maus lençóis.

Isto significou a primeira grande falência política desta crise mundial que rebentou na Europa em meados de 2010 de uma forma mais abrupta com a crise das dívidas soberanas e da moeda única. A sua sobrevivência pressupunha uma reflexão que sempre exigiram à sua esquerda mas que, agora, não a quiseram fazer.

O populismo é a face visível da nova vaga da(s) Direita(s) espalhadas por essa Europa dos tecnocratas e de uma nova fé chamada Austeridade. É acreditar no desconhecido ou naquilo que podemos chamar de mentira. Essa fuga à razão no novo discurso das instituições europeias e dos governos é o desenhar de um novo processo político em curso – esquecer as teorias económicas neo-liberais e delinear o neo-conservadorismo.

Trocam-se eleições por nomeações, multam-se os sem-abrigo por simplesmente existirem e rasgam-se as conquistas republicanas em nome de qualquer outra coisa que está para além da Democracia. Qualquer extremismo é fruto de uma falência (neste caso da doutrina económica) e figura de uma transformação que visa outro formato governativo, que nunca o anterior.

Mas isso abre portas para que a Esquerda e a sua reconstituição reflita se, por um lado, essa real dialógica do passado, analisando e assumindo os seus erros mas olhando também para o vizinho, que ao esquecer as palavras não quis mais do que fugir ao Socialismo.

Os chavões e a dialética (ou entramos no joguete ou chamamos as coisas pelos nomes). É que as palavras são a imagem daquilo que pensamos sobre certo assunto e isso tem um conteúdo, não é meramente formal, fator que alguma Esquerda (ou tentativa disso) tentou fazer crer para se distanciar das experiências que usavam Marx nas paredes das suas produções revisionistas ao longo do séc. XX. Bem, mas distanciaram-se demais, talvez. Já assinam acordos Troikianos e como eles gostam de discutir esse fetichismo pela formalidade – começou pelas palavras e agora encontra-se no debate sobre onde se escreve o limite ao défice (dando o exemplo do casso nacional).

As manifestações dos Indignados, as Revoltas Árabes, são o espelho de uma nova velha Luta de Classes. E depois da Esquerda e de alguns pensadores que a foram também escrevendo ressentirem as experiências falhadas tanto da União Soviética como das lutas dos anos 60 e 70, como o Maio de 68, percebemos que o que morreu não foi a Luta de Classes em si, como verdade histórica que sempre existiu, mas sim como conceito posto de parte pelas vagas mais pós-estruturalistas.

Voltando ao primeiro parágrafo, o neo-liberalismo morreu duas vezes. Existe uma clara falência da Social Democracia e espreita pela janela já com um pé dentro do quarto um Neo-Conservadorismo europeu refém do Imperalismo do G2 – EUA e China, que acabam por ser ao mesmo tempo vítimas das suas produções sociais, políticas e económicas.

Só resta inverter os papéis da própria lógica do pensamento hegemónico da classe dominante. Percebemos que aquela Ideia de Comunismo tantas vezes vendida ao desbarato como a política do impossível é a única que agora se afirma como projeto comum de futuro. Não vale a pena tentar pescar a social-democracia porque já nem morde o isco mas muito menos agarrar o tubarão furioso – só pára se for morto.

Zizek diz, em jeito de justificação da importância da teoria, que os filósofos limitaram-se a transformar o mundo de várias maneiras, o que é preciso é saber interpretá-lo. Mas nunca nos esqueçamos da origem desta inversão. Essa origem dessa Ideia (neste caso invertida por Zizek) tem um nome e chama-se Marx, pois não: «Os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de diversas maneiras; o que importa é modificá-lo.» Não por uma pós-história mas por uma Outra História.

Luís Monteiro

 

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