A libertação pela música Versão para impressão
Sexta, 27 Janeiro 2012

c28_diogo_barbosaDesde Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Zé Mário Branco, Fausto, Sérgio Godinho entre outros foram quem inspirou gerações através das suas músicas, dos seus poemas, da sua intervenção. Todos eles participaram de uma ou outra forma em processos de luta pelos direitos das pessoas versando sobre o direito ao trabalho, saúde, educação e habitação como está descrito por Sérgio Godinho e que é parte da luta de todos e todas que querem ver os seus direitos conquistados depois de Abril. As letras de todos estes autores, compositores e cantores são letras de libertação e de incentivo ao povo na sua luta do dia-a-dia contra a opressão que cada vez se vai sentindo mais.

É em alturas como estas sem revivalismos que estas músicas e estes autores fazem todo o sentido como motores e veículos do povo nas suas lutas. Tiveram o seu papel importantíssimo no regime salazarista com mensagens políticas escondidas nas suas músicas que inspiravam todos que lutavam contra o

regime e trouxeram no pós 25 de Abril as suas reivindicações sob a forma de música para as ruas fazendo da cantiga uma arma como o GAC. Em todos os momentos da história revolucionária portuguesa e pelo mundo a música, por vezes esquecida, teve o seu papel na luta e continuará a ter. A revolução dos cravos foi possível graças a uma música sendo ela símbolo de uma geração que se viu libertada da opressão de um regime fascista.

Hoje com o ataque da Troika e do próprio governo contra o povo, fazendo com que este volte à vida sem condições, sem dignidade é que faz todo o sentido voltar a trazer o espírito das cantigas de intervenção. Hoje como há 30 anos atrás José Mário Branco e o seu FMI fazem todo o sentido naquela que deve ser a luta contra a nova ditadura contra a nova opressão. É hoje que quem versa sobre os direitos dos trabalhadores e que esteve esquecido por muitos durante tantos anos tem o seu papel mais uma vez fundamental, a cultura. É através da cultura e da cantiga como arma que é necessário voltar à rua, sem eufemismos, lutando, tendo a cantiga de intervenção como bandeira das novas lutas que vão ter de ser travadas para que os direitos conquistados voltem a quem por eles lutou e vai continuar a lutar.

É esta música popular de protesto e de intervenção tão em voga durante o regime e depois dele que

GAC

deve voltar a ter o seu papel libertador para todos que como há quase 40 anos são oprimidos pelas novas ditaduras. A música de intervenção faz parte da cultura portuguesa e está juntamente com o resto da música popular portuguesa no ouvido de todos, e é esse o seu lugar sendo reproduzida pelos mesmos ou através de novos grupos de intervenção que façam da cultura a sua bandeira, pois a luta não se faz só de manifestações e de palavras, faz-se através da cultura e deve ser essa a bandeira de todos os que lutam.

Nesta altura em que a conjuntura nacional e europeia nos traz novos governos que não são eleitos e compostos por tecnocratas são um ataque feroz a um dos mais básicos direitos dos cidadãos, a democracia. É necessário fazer ressurgir o espírito à muito adormecido que foi trazido pela música de intervenção, voltar a tê-la como meio de protesto para garantir os direitos e liberdades do povo que por eles lutaram tanto tempo. Muitos autores versaram sobre política através das suas músicas. Que se volte a versar a intervenção e que se faça agora a luta mais difícil dos últimos anos... A luta pela liberdade e pela restauração da democracia plena contra o neo-conservadorismo e a ditadura económica ou de mercado. Que a vida das pessoas esteja nas suas mãos e não nas mãos de quem delas não quer saber.

É agora que nos revemos novamente nas palavras de José Mário Branco “nós queremos trabalho e casa decente a carne do talho e pão para toda a gente”. Vamos lutar e vamos fazer da música uma das muitas armas de que disposmos para que os direitos e liberdades sejam respeitados.

Diogo Barbosa

(também publicado em A Comuna nr 28)